sábado, 4 de julho de 2015

JULHO/2015: O JOGO DE CINCTURA DA VELHA GAGÁ


Certa vez ouvi um argentino referir-se a Miami pronunciando com "I"
mesmo e não, como nós, "maiami". Achei extranho mas, parando para
pensar, concordei que, sendo mais politizados (portanto menos
colonizados), estariam certos aquelles que respeitam sua lingua natal.
Affinal, não são os francezes que chamam Glauber Rocha de "globê rochá"?

Pensando melhor, notei que ja fomos mais ciosos da lingua portugueza, a
julgar pela pronuncia de alguns nomes anglophonos. Aqui nunca dissemos
"colgueite" ou "palmolaive" quando fallavamos das marcas Colgate e
Palmolive. Os perfumes da Avon sempre foram annunciados pelo slogan
"Avon chama!", que nunca soou como "êivon". A emissora londrina era
"bebecê" mesmo e não "bibici". Si a CIA espionasse os computadores da
IBM, não seria a "ciaiei" na "aibiem". Logo, não haveria motivo para
chamar a NBA de "enbiei". A graxa de sapatos Nugget era "Nuguéte" e
nunca "Nâguet". Até marcas alternativas foram lançadas aqui, para
respeitar a nossa prosodia: em vez de "tough man", Taff Man"; em vez de
"hangover", Engov.

Provavelmente por culpa da internet, mas tambem por factores mais
geopoliticos (os adeptos da theoria da conspiração que o digam), hoje em
dia ficamos mais macaquinhos da anglophonia. Palavras impronunciaveis,
ainda que perfeitamente traduziveis, são teimosamente introduzidas entre
nós e macarronicamente repetidas a cada modismo cybernetico. A peor
dellas é, de longe, a maldicta "hashtag", que todo mundo pronuncia
mascando feito chiclette: "xexexegue". Um tal de "xexexegue" p'ra ca,
"xexexegue" p'ra la... Um sacco! Não querem dizer "anthyphen"? Não
querem dizer "cerquilha"? Não querem siquer dizer "sustenido", como nas
partituras? Mas no proprio inglez aquelle raio de signalzinho se chama
"number sign"! Pois chamem de "nâmber", então, si não quizerem
pronunciar "númber"! Mas não me venham mastigar aquelle xexelento
"xexexegue" como um velho gagá mastigando a dentadura! Que raiva! Meu
consolo é que, como todo modismo, essa mania vae desapparescer em breve,
como ja obsolesceram o orkut e a second life. Nada perco por esperar.

Outra conclusão a que se chega é aquella velha historia de que, em se
tractando de macaquear, sempre imitamos dos americanos as coisas ruins e
desprezamos as boas. A lingua ingleza não nos offeresce só exemplos
detestaveis como o erradissimo termo "paralympic", que deveria ser
"parolympic" até para elles. Ha tambem optimos exemplos de correcção
graphica, que deveriam ser observados pela macacada tupyniquim.

Meu companheiro Akira, que é professor de inglez, cansou de ver alumnos
habituados a ler a marca General Electric e, na hora de escrever, elles
só conseguem pôr" "eletric" no papel. Si escrevessemos "electricidade" e
"electrico", como antes das reformas, seria um erro a menos.

Para nosoutros, etymologistas convictos, resta estoutro consolo de que,
pelo menos, os mais attentos estudantes de inglez teem alguns graphemas
classicos como modello, adjudando a decorar as equivalentes formas
vernaculas. Assim, fica mais facil lembrar que "telephone",
"photographia", "philosophia" ou "physica" levam "PH", no caso de
hellenismos. Mas cuidado! Tambem levam "PH" palavras como "phantasma" e
"phantasia", embora elles sejam incoherentes, graphando "phantom" mas
admittindo o erroneo "fantasy"... No caso dos latinismos, tambem vale
alguma macaquice: "collection" como "collecção", "application" como
"applicação", "support" como "supporte", "occupy" como "occupar"... Mas
cuidado! Elles escrevem "literature" com um "T" só, quando o certo é
"litteratura"!

Cuidado tambem com latinismos typo "auctor" ou "auctoridade", que para
elles são "author" e "authority"! Si tivermos o devido discernimento, o
estudo do inglez pode ser muito util a quem pretenda seguir a norma
classica aqui practicada, digo, aqui no blog, não nesta bosta de paiz,
ou nesta "shita", como diriam os macaquinhos, que não distinguem Sheeta
de shit!

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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