sábado, 29 de junho de 2013

JULHO/2013: "VOCABULARIO MEDONHO"

Entre as innumeras inconveniencias da graphia phonetica está a confusão
de etymologismos como "hippo" (cavallo) e "hypo" (abaixo): os
reformistas escrevem, indistinctamente, "hipódromo" e "hipótese", quando
deveriam escrever "hippodromo" e "hypothese". Peor ainda: ora escrevem o
mesmo graphema dum jeito, ora doutro, como "gymno" (nudez), que figura
como "gin..." em "ginásio" e "ginástica" (correctamente, "gymnasio" e
"gymnastica") e como "gimn..." em "gimnocéfalo" (correctamente,
"gymnocephalo"), lembrando, ademais, que "gymno" não pode ser confundido
com "gyno" (mulher), a exemplo da palavra "gymnogyno", que os
phoneticistas escrevem "gimnógino".

Ja quem escreve, como eu, pelo systema etymologico apprende a distinguir
os hellenismos, como "philo" (em "philogynia") e "phyllo" (em
"phyllogenia"), que os phoneticistas grapham, equivocadamente,
"filoginia" e "filogenia".

O conhecimento dos etymologismos grecolatinos é particularmente util na
hora de cunharmos neologismos, ainda mais os do typo hybrido. Querem
ver? O melhor laboratorio de novos termos scientificos, ou até
pseudoscientificos, está na covardia da especie humana. Acho que não ha
animal mais medroso que o homem, a julgar pela quantidade e pela
diversidade de phobias que rotulamos no quotidiano: a cada hora nos
apavoramos com algo que, geralmente, nem representa perigo. Ahi surgem
differentes nomes para o mesmo medo, comprovando que o medo é maior que
qualquer tentativa de baptizal-o. Examinemos os terrores mais communs
que nos assombram.

Um exemplo typico é o medo de avião. Uns o baptizam de
"aerodromophobia", onde "dromo" significa o acto do percurso. Assim, o
percurso por via ferrea seria "siderodromo", donde o medo de viajar de
trem: "siderodromophobia". Outros preferem "ptesiophobia" para o medo de
voar. Si o medo for do mar, temos "thalassophobia". Si for de rios,
"potamophobia". Si for de lagos, "limnophobia". Ahi basta enxertar o
affixo "dromo" para as viagens, typo "potamodromophobia", que pode
incommodar alguem que receie palavras compridas, ou seja, alguem que
soffra de "sesquipedalophobia". Aliaz, esse coitado terá muitos motivos
para se intimidar si for pesquisar o vocabulario das coisas que nos
ameaçam. É capaz de ficar com medo de sentir medo, isto é, a chamada
"phobophobia".

Si usassemos apenas "dromophobia", seria para nos referirmos ao medo de
andar pelas ruas, de simplesmente perambular. Si quizessemos especificar
o medo de percorrer ou atravessar estradas, poderiamos usar "hodophobia"
e, no caso de usar ou cruzar pontes, "gephyrophobia". Si o sujeito ja
fica apavorado só por caminhar, soffre de "ambulophobia". Si o que elle
teme é desequilibrar-se ao andar ou ficar de pé, soffre de "basiophobia"
ou de "estasiophobia". Si teme manter a cabeça erguida, soffre de
"geniophobia".

E no caso de embarcar em vehiculos mais corriqueiros? Andar de carro dá
medo? Então seria "amaxophobia". Si o sujeito tem medo da velocidade,
tem "tachophobia", onde apparece o mesmo graphema de "tachographo". Si
teme dirigir pela mão direita ou virar à direita, tem "dextrophobia". O
mesmo vale para objectos do lado direito do corpo. No caso da mão
esquerda ou do lado esquerdo, tem "sinistrophobia".

Por fallar em sinistros, outro sentido do termo tem a ver com tudo que
envolve a morte ou os mortos. Alem da "thanatophobia", temos a
"necrophobia". Mais especifico é o medo de ser enterrado vivo, a
"taphophobia". O medo de phantasmas é a "espectrophobia". O medo das
sombras é a "sciophobia" ou "esciophobia". O medo dos sonhos é a
"onirophobia". Outros teem medo de vestigios mais palpaveis, como os
vermes, caso da "escolecophobia".

O medo de morrer remette ao campo da saude, fonte da maior parte das
nossas preoccupações. O medo de sentir dor é a "algophobia" ou
"odynophobia". O medo de sentir fraqueza ou de desmaiar é a
"asthenophobia". O medo de ficar doente é a "nosophobia" ou a
"pathophobia". O medo de ficar louco ou pegar raiva é a "lyssophobia".
Para a raiva tambem vale a "hydrophobophobia". O medo de ter febre é a
"pyretophobia". O medo de vomitar é a "emetophobia". O medo de
envenenar-se é a "toxophobia". O medo de intoxicar-se, de aspirar
polluição ou de engolir ar é a "aerophobia". O medo de contaminar-se por
germes é a "mysophobia", cujo graphema não pode ser confundido com o
"miso" de "misogynia", que equivale à "gynophobia" ou aversão às
mulheres. Ja o medo de contaminar-se pela sujeira é a "molysmophobia". O
simples medo de immundicie é a "rhypophobia". O medo de poeira é a
"coniophobia". O medo ou nojo de substancias viscosas é a "myxophobia"
ou "blennophobia". O medo de hospitaes é a "nosocomiophobia". O medo de
ir ao medico é a "iatrophobia". De dentistas, a "odontologophobia". Para
quem tem medo de doença incuravel o termo pode ser "monopathophobia".
Para doenças venereas, "cypridophobia" ou "cyprinophobia". No caso da
syphilis, "syphilophobia". Para a tuberculose, "phthisiophobia". Para
doenças de pelle, "dermatopathophobia". E assim por deante. O medo de
ficar enrugado é a "rhytidophobia". O medo de ficar careca é a
"phalacrophobia". O medo das deformidades é a "dysmorphophobia". Quanto
ao medo de cirurgia, seria a "tomophobia"; de sangue, a "hemophobia" ou
"hematophobia"; de injecção, seria "trypanophobia", lembrando que existe
"rhaphidophobia" para agulhas e "belonophobia" para alfinetes. O medo de
machucar-se physicamente é a "traumatophobia". Para os hypochondriacos
ha um prato cheio no campo dos medicamentos. O medo de tomar remedio é a
"pharmacophobia". No caso de remedios novos, "neopharmacophobia". No
caso de remedios à base de mercurio, "hydrargyrophobia". O proprio
medico, si tiver medo de operar, tem "ergasiophobia".

Outro terreno fertil aos medos é o convivio social ou seu opposto, o
isolamento. Si o sujeito não consegue ficar sozinho, tem "autophobia",
"monophobia" ou "eremophobia". Si não consegue ficar em casa, tem
"domatophobia". Si sae e não quer voltar, tem "nostophobia". Si tem medo
de agglomerações, soffre de "ochlophobia" ou de "demophobia". Si teme
logares abertos e publicos, tem "agoraphobia". Si teme logares abertos e
altos, tem "aeroacrophobia". Si teme logares estreitos, tem
"estenophobia". Si teme logares fechados, tem "claustrophobia". Si teme
ficar trancado, tem "clitrophobia". Si teme logares suppostamente
perigosos, tem "topophobia". Mesmo entre os que não soffrem de
"sociophobia" ou "anthropophobia" ha excepções: uns teem aversão a
creanças, a "pedophobia", outros a velhos, a "gerontophobia", outros a
pessoas deformadas, a "teratophobia", outros aos parentes, a
"syngenosophobia", outros aos proprios filhos, a "hyiophobia" ou
"huiophobia", outros aos extrangeiros, a "xenophobia", outros aos
homosexuaes, a "homophobia". Quem não quer depender dos outros tem
"soteriophobia". Quem não supporta ouvir vozes ou ruidos tem
"phonophobia". Quem não consegue fallar ou discursar tem "lalophobia" ou
"glossophobia". Quem tem medo das palavras tem "logophobia", e de certos
nomes tem "onomatophobia". Quem tem medo do ridiculo tem
"catagelophobia". Quem tem medo de se ruborizar tem "ereuthophobia".
Quem tem medo de ser observado tem "escopophobia". Quem tem medo de
dansar tem "chorophobia". Quem não quer ser tocado nem tocar tem
"hapheophobia". Si for com a mão, tem "chiraptophobia".

Funcções physiologicas normaes e actos communs ou rotineiros podem ser,
para alguns, fonte de temor, como alimentar-se ou engolir a comida,
casos de "sitiophobia" e de "phagophobia". O medo de jantar ou de
conversas ao jantar é a "dipnophobia". O medo de beber ou ingerir
liquidos é a "dipsophobia". O medo dos lacticinios é a "galactophobia"
ou "lactophobia". O medo da gravidez é a "tocophobia". O medo do parto é
a "lochiophobia" ou "maieusophobia". O medo de sentar-se é a
"cathisophobia". O medo de deitar-se é a "clinophobia". O medo de dormir
é a "hypnophobia". O medo de trabalhar é a "ergophobia", accusada de ser
desculpa para a preguiça. O medo de tomar banho é a "ablutophobia". O
medo de mijar ou da urina é a "urophobia". O medo de cagar ou da merda é
a "coprophobia". O medo de peidar ou respirar taes ares é a
"flatophobia".

Nossa paranoia com a segurança causa medos como a "hyalophobia"
(cortarmo-nos com vidro), a "catoptrophobia" (espelhos), a
"erythrophobia" (luz vermelha), a "climacophobia" (degraus e escadas), a
"hypsophobia" (altura), a "abyssophobia", "acrophobia" ou "cremnophobia"
(precipicios), a "bathophobia" (profundidade), a "dinophobia" (vertigens
e redemoinhos), a "cinetophobia" (movimentos), a "chronometrophobia"
(relogios), a "mechanophobia" (machinas), a "hoplophobia" (armas de
fogo), a "ballistophobia" (misseis), a "kleptophobia" (sermos roubados),
a "nyctophobia" (sahirmos à noite) e a "ataxophobia" (desordem).

O amor e o sexo não poderiam faltar na lista dos cagaços. Só de beijar
ou ser beijado alguem sente medo, a "philemophobia" ou
"philematophobia". De enamorar-se existe a "philophobia". De casar, a
"gamophobia". De sentir prazer, a "hedonophobia". De se excitar, a
"erotophobia". De sentir dor durante o acto, a "erectophobia". De ser
sexualmente abusado, a "contrectophobia". De putas, a "cypriphobia" ou
"cyprianophobia", que vale tambem para doenças venereas.

Phenomenos climaticos e naturaes podem gerar varios typos de medo. O
nascer do sol ou a luz do dia gera a "phengophobia". Si for de qualquer
claridade, o problema é a "photophobia". Si for do céu, o medo é a
"uranophobia". Si for do sol, o medo é a "heliophobia". Si for da lua ou
do luar, é "selenophobia". Si for das estrellas, é "siderophobia", mesmo
graphema do aço nas ferrovias. Si for do calor, o medo é a
"thermophobia". Si for do frio, o medo é a "psychrophobia"; do
congelamento, a "cryophobia". Si for do fogo, é "pyrophobia". Si for da
seccura ou da aridez, é "xerophobia". Si for da humidade, é
"hygrophobia". Si for da chuva, é "ombrophobia". Si for dos relampagos e
trovões, é "astrapophobia", "brontophobia" ou "ceraunophobia". Si for da
neve, é "chionophobia". Si for dos nevoeiros, é "nephophobia". Si for do
vento ou das correntes de ar, é "anemophobia". Si for das ondas ou
ondulações, é "cymophobia". Si for da madeira ou das florestas, é
"xylophobia" ou "hylophobia". Si for das arvores, é "dendrophobia". Si
for das flores, é "anthophobia".

Si os animaes inoffensivos despertam panico ou nojo em muita gente, que
dizer dos aggressivos? O medo de animaes, ou "zoophobia", se
particulariza na "cynophobia" (cães), na "elurophobia" ou "galeophobia"
(gattos), na "musophobia" ou "murophobia" (rattos), na "ornithophobia"
(passaros), na "alectorophobia" (gallinaceos), na "chenophobia"
(gansos), na "ichthyophobia" (peixes), na "selachophobia" (tubarões), na
"ophidiophobia" (cobras), na "batrachophobia" (sapos e rans), na
"herpetophobia" (repteis), na "entomophobia" (insectos), na
"melissophobia" (abelhas), na "esphecophobia" (vespas e marimbondos), na
"myrmecophobia" (formigas), na "isopterophobia" (cupins), na
"blattophobia" (baratas), na "arachnophobia" (aranhas e escorpiões), na
"acarophobia" (pequenos organismos), na "bacillophobia", na
"bacteriophobia" e na "microbiophobia" (microorganismos). E por ahi vae.

O terreno espiritual e moral tambem é foco de medos, obviamente. O medo
vae do mero apprendizado ou do conhecimento, chamado de "sophophobia",
"epistemophobia" ou "gnoseophobia", até as mais altas divindades, a
"theophobia", passando pelo inferno, a "hadephobia" ou "estygiophobia",
pelos sanctos, a "hagiophobia", pelos sacerdotes e pelas coisas
sagradas, a "hierophobia", pelos mythos e lendas, a "mythophobia" ou
pelos crucifixos, a "estaurophobia". Quem tem medo de peccar soffre de
"hamartophobia". Quem tem medo do castigo, soffre de "mastigophobia"
(com "M" mesmo). Quem tem medo do materialismo, soffre de "hylephobia".
Quem tem medo da liberdade, soffre de "eleutherophobia". Quem tem medo
de mudar, soffre de "metathesiophobia". Quem tem medo de novidades,
soffre de "neophobia" ou de "cenotophobia".

Eu mesmo fui victima de certas paranoias que acabaram por confirmar-se,
taes como a "ableptophobia" (medo de ficar cego), a "escotophobia" (medo
da escuridão) e outras consequencias da condição de usuario dos systemas
de escripta typhlographica ou ectypographica, na qual me encaixo. No
livro MINGAU DAS ALMAS incluo o soneto "Typhlophobia" entre os que
compõem o cyclo "O medo a dedo".

Quanto ao leitor, depois de saber que ha tantas alternativas para ser
medroso, o sujeito acaba ficando com medo de tudo, a "pantophobia"... Ou
não é?

A proposito dessa vasta terminologia fiz este soneto:

SONETO PARA O PARASITA "PODÓFILO" [3075]

Um typico exemplinho nos ajuda
a ver como a phonetica complica:
em "filo" um "philo" e um "phyllo" ella unifica
de modo incoherente a quem a estuda.

"Podophilo" sou eu: ninguem se illuda!
Humana ou animal, a fauna rica
dos que gostam de pés o termo explica.
"Podophyllo" é p'ra planta, e a coisa muda!

Um "terio" e um "therio" a mesma coisa não
traduz, mas tudo em "tério" ora se lê.
Logar é o cemiterio à assombração.

A fera é o megatherio: acha você
que os monstros não differem? Qual, então,
o nome que às phobias alguem dê?

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sábado, 15 de junho de 2013

JUNHO/2013: "TU SONETAS, VÓS SONETAES"

Ja expliquei e exemplifiquei que, na reforma orthographica de 1943, os
phoneticistas estavam tão obcecados em abolir o "PH" e as consoantes
geminadas quanto em introduzir accentos que não existiam na escripta e
só tonificavam as palavras na falla. Assim, o adverbio
"philosophicamente" perdeu dois "PH" e passou a levar accento grave na
subtonica, escripto como "filosòficamente", porque o adjectivo
"philosophico" passara a levar agudo na tonica, graphado como
"filosófico". Ja o substantivo "appello", que perdera um "P" e um "L",
ganhou, por outro lado, um circumflexo, reformado como "apêlo".

Ou seja, os academicos que bolaram uma reforma pretensamente
"simplificadora" deram um tiro no proprio pé e trocaram seis por meia
duzia. Tudo que se "economizou" em "PH" que virou "F" e em lettras
duplas que viraram unas (ou nuas) se gastou accentuando palavras que
jamais tinham precisado de accento. A intenção declarada era "facilitar"
o apprendizado, mas a segunda e principal intenção era vender
diccionarios e livros didacticos, ninguem ignora.

O resultado dessa plethora de signaes foi que, desde então, todo mundo
teve que escrever o pronome "êste" com circumflexo para não confundirmos
com o substantivo "este" (poncto cardeal), ou a preposição "sôbre" para
não confundirmos com "sobre" (verbo "sobrar"), ou o verbo "colhêr" para
não confundirmos com o substantivo "colher". Ja pensaram? Si eu quizesse
que alguem se "fôda", teria de accentuar, sinão seria "foda"! Que foda,
hem? Que se foda, diriamos hoje...

Isso reflecte a mania que o brasileiro tem, quando está no poder, de
querer regulamentar tudo, quando, na practica, não limpa direito nem o
proprio cu. Ja naquella epocha as auctoridades não conseguiam reprimir a
criminalidade e a corrupção, mas insistiam em patrulhar o comportamento
dos que ja estavam enquadrados como cidadãos cumpridores de seus
deveres. Não por acaso estavamos numa dictadura...

Tambem estavamos numa dictadura quando, em 1971, os academicos
perceberam que, sendo tantos accentos desnecessarios e complicadores,
poderiam lucrar de novo si bolassem nova reforma que os abolisse. Assim,
bastou mais um decreto para officializar que, dalli em deante,
"filosòficamente" perderia o accento grave e "apêlo" o circumflexo. Mas
o substantivo "idéia" continuaria a levar agudo, para que não fosse
pronunciado como "aldeia". Tambem "lingüiça" e "tranqüilo" continuariam
a levar trema, para que não fossem pronunciados como "preguiça" ou
"aquilo". Mas não perderiamos por esperar, né?

Tudo não passava de auctoritarismo, de casuismo e de opportunismo, pois,
antes de 1943, todos sabiam que "philosophicamente", "appello",
"linguiça", "preguiça", "tranquillo" e "aquillo" dispensavam quaesquer
accentos e que "idéa" levava agudo mas não tinha "I" antes do "A".

De minha parte, nunca acceitei que "sonêto" levasse tal accento para não
se confundir com "eu soneto". Mesmo antes de sonetar, eu não confundiria
substantivo com verbo. Não sou burro, como os dictadores gostariam que
todos fossemos.

Agora que cheguei a mais de cinco mil sonetos, estou mais que
credenciado a decidir em termos de orthographia. Um dos livros que estão
na minha gaveta, intitulado CRYSTALLINO CRYPTOGRAMMA, collecciona
justamente os sonetos que commentam esta opção pela escripta classica.
Eis aqui os primeiros sonetos desse cyclo. Até o proximo topico!

SONETO PARA O PARADIGMA RESGATADO [3073]

"Philosophicamente", como "appello",
graphava-se, na velha orthographia,
em texto que se lê e que se confia
que está correcto e é facil entendel-o.

O "phi" nos vem do grego, cujo sello
tem cunho scientifico hoje em dia.
Dois eles e dois pes geminam via
latim, e preserval-o exige zelo.

Assim, "ophidio" e "officio" se differem
na escripta, como "ephemero" de "effeito",
e pau nos que da origem não souberem!

Na nova orthographia, não ha jeito
que faça com que os jovens recuperem
raizes, e por isso eu não a acceito.

SONETO PARA A PARADA A PASSO DE CAVALLO [3074]

Durante o Estado Novo se decide
que "appello" vire "apêlo" e que se leia
"filosòficamente"! Na cadeia
trancado é quem da nova lei se olvide!

De novo, nos septenta, quem aggride
a lingua é um militar: manda que eu creia
que "apelo" perde accento! Esta, graphei-a
"filosoficamente", sem revide...

Revido, então, agora, quando grapho
na forma etymologica: um alarde
de como auctoritario é um "novo" bafo.

Podemos restaural-a! Nunca é tarde!
Si dessa dictadura hoje me safo,
a lucta encararei: não sou covarde!

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sábado, 1 de junho de 2013

MAIO/2013: "POESIA NÃO PEDE LICENÇA, NEM LICENCIAMENTO, NEM LICENCIATURA, SÓ LICENCIOSIDADE"

Trez são as razões pelas quaes adopto a orthographia etymologica (que
chamo de "etymographia" ou de "eugraphia") em logar da graphia phonetica
(que chamo de "dysmorphographia" ou de "cacographia") e das quaes não me
canso de fallar:

Primeiro, por ser a mais correcta, por signal practicada pelos francezes
e inglezes, a quem nos junctavamos antes da decada de 1940, oppondo-nos
aos italianos e hespanhoes, que ja practicavam o phoneticismo
orthographico desde os primordios novilatinos e não reformaram nada da
noite para o dia.

Segundo, por ser mais bonita aos meus olhos, quer emquanto enxerguei
(desde a decada de 1970, quando me bacharelei em bibliotheconomia e
comecei a fazer poesia no zine anarcholitterario JORNAL DOBRABIL), quer
depois de perder a visão (quando voltei ao soneto de mala e cuya), mais
bonita, dizia eu, graças a seus charmosissimos digrammas de "H"
hellenico ("PH", "RH", "TH"), seus eleganterrimos graphemas em "Y" e
suas chiquerrimas consoantes latinas geminadas, superlativos informaes
aos quaes accrescento o classico "facillimo" por não achar
"difficillimo" escrever correctamente quando nos habituamos a ler
attentamente.

Terceiro, por ter sido successivamente reformada de maneira artificial e
dictatorial, em periodos fascistoides de nossa historia (1943 e 1971),
sendo, portanto, inadmissivel que o ultimo "accordo" se torne
obrigatorio por imposição legal num governo suppostamente democratico
como o actual regimen.

Obvio é que, si não formos ingenuos, todos sabemos do interesse
commercial por traz duma obrigatoriedade que torna subitamente obsoletos
todos os diccionarios e livros didacticos, compulsoriamente reeditados e
revendidos por capitalistas gananciosos, recomprados por alumnos e
professores indefesos e reescriptos por opportunistas entre os quaes se
encontram alguns dos proprios academicos que machinaram
machiavellicamente o tal "accordo". Mas isso é cediço e peor que isso é
ser mãe de ouriço. Fiquemos nos planos theorico e practico da escripta,
officio de quem, como eu, exercita a litteratura.

Quero abordar, agora, um poncto que me toca particularmente e me
incommoda mais que outras arbitrariedades da dysmorphographia. Refiro-me
ao trema e às maiusculas quando se tracta de poesia. Sim, pois o tal
"accordo", não bastasse tyrannizar sobre quem escreve em prosa, tem a
petulancia de cagar regra sobre quem cria poesia, vejam só!

Ao contrario de topicos que nossos immortaes assassinos nos concedem
considerarmos "facultativos", o trema estaria, segundo elles,
inappellavelmente abolido, prohibido até na poesia, caso em que indica
uma dierese (hiato forçado) na metrificação, como em "saüdade", que,
quando leva trema no "U", deixa de ser trisyllabo para ser tetra,
pronunciando-se "sa-u-da-de". Ja imaginaram? Era só o que faltava, um
Bilac ou um Drummond tendo que pedir licença poetica a um Houaiss ou um
Bechara e levando um não pelas fuças! Pessoalmente o trema nem me
affecta, pois a etymographia prescinde delle para avisar que "linguiça"
não se pronuncia como "preguiça" nem "tranquillo" como "aquillo", ja
disse e repito. Mas não abro mão do direito de usar trema num poema si
me der na telha, ora!

Quanto às maiusculas, os assassinos academicos as exigem, entre outras
obrigatoriedades, como iniciaes de versos, calculem vocês a intromissão!
Bilac poderia achar isso normal, mas Drummond não. Imaginem então um
Allen Ginsberg ou um Augusto de Campos tendo que pedir permissão a um
Sarney ou a um Napoleão (Mendes de Almeida, digo) para usar só
minusculas e levando um curto e grosso não! Tinha graça!

Para illustrar mais este inquerito, digno duma Commissão da Verdade
Litteraria, transcrevo um poema em que minusculizei tudo de proposito,
composto na phase em que enxergava, e o soneto em que converti o
argumento, mantida a minusculização. Até o proximo inquerito contra a
Inquisição!

QUEM DIABO É DEUS? [poema de 1977]

deus não é a antimateria
deus não é o antichristo
deus não é o chaos
deus não é o kosmo
não é um campo magnetico
não é um corpo magnifico
não é a voz do povo
não é a paz do papa
deus não é um sapo horrendo
do lodo do brejo nojento
nem o excremento fedorento
mas podia ser
si não fosse aquelle garoto
que me deflora a bocca
e me degusta a sola
quando trepa commigo

QUEM DIABO É DEUS? [soneto de 1999]

é deus antimateria? não. tambem
não é deus antichristo. não é chaos
nem kosmo. é deus magnifico entre os maus?
magnetico entre os bellos? deus é quem?

do povo a voz? do papa a paz? alguem
tem delle nojo ou odio? quaes os graus
possiveis que mensuram alguns paus
divinos e alguns cus terrenos? hem?

podia ser deus tudo, ser podia
sapão no seu brejinho ou ser sapinho,
então, no seu brejão, por um só dia.

quizesse, e deus seria. mas, mesquinho,
prefere nem siquer ser quem me enfia
na cara o pé, na bocca o pau: neguinho.

Pelo YOUTUBE eu appareço declamando este soneto no canal
www.youtube.com/user/gatinhocachorro
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