sábado, 19 de outubro de 2013

OUTUBRO/2013: "CARA CARA PARA TARA RARA"

Em these, toda palavra composta de etymos gregos teria sua equivalente
latina. Assim, quem se alimenta de fructas é carpophago ou fructivoro.
Aquillo que tem varias cores é polychromatico/polychromico ou
multicolorido. Quem falla sozinho faz um monologo ou um soliloquio. Um
livro seleccionando paginas litterarias pode ser uma anthologia ou um
florilegio, pois a noção de "flor" está presente em ambas as formas.

Mas na practica são as formas gregas as que mais se incorporam ao idioma
na hora de classificarmos e baptizarmos casos especificos, por exemplo,
de aversão ou perversão. Ja demonstrei aqui como os mais differentes
medos humanos são rotulados pela simples juxtaposição do suffixo
"phobia" a um affixo determinado pelo objecto da aversão, como
"pedophobia" ou "necrophobia", respectivamente para creanças ou
cadaveres. Pois bem, basta substituir "phobia" por "philia" e temos, em
logar da retracção psychologica, a attracção, geralmente sexual e
eventualmente maniaca ou obsessiva, pelo mesmo objecto, characterizando,
por vezes, typos bem peculiares de fetichismo. No caso da pedophilia e
da necrophilia, o interesse sexual do "tarado" ja está fartamente
documentado e explorado.

Quero, agora, expor alguns rotulos menos conhecidos, aproveitando para
compor e propor outros que me occorram. O voyeurismo pode ser chamado,
mais scientificamente, de "escopophilia", ja que "escopo" é o mesmo
elemento que forma suffixo em "telescopio" ou "kaleidoscopio", ou seja,
dá idéa de observação ou visualização. O masochismo, si considerado
apenas como prazer na dor physica, pode ser chamado de "algophilia",
pois "algo" é o mesmo elemento que, na posposição, funcciona como
"algia" em "cephalalgia" ou "nevralgia". E assim por deante: "zoophilia"
para bestialismo, "rhypophilia" para chiqueirismo, "coprophilia" para o
fecalismo dos "brown nosers" (como dizem os americanos), "podophilia"
para o retifismo, "gymnophilia" para o nudismo e o exhibicionismo, etc.

Claro que muitas philias não teem connotação sexual, taes como
cynophilia e elurophilia para cães e gattos ou enophilia e cinephilia
para vinhos ou filmes, mas um onanista ou "autoerotophilo" não pensa em
outra coisa sinão "naquillo".

Nem só de philias, porem, vive a sexualidade: "lagnia" e "latria" são
dois outros etymos gregos que bem se applicam ao prazer erotico ou à
attracção fetichista, como em "algolagnia" para masochismo, "urolagnia"
para o "golden shower" e os "water sports" dos americanos,
"osphresiolagnia" para os aromas (que não são necessariamente corporaes
ou eroticos mas podem ser kosmeticos ou gastronomicos), "podolatria"
para o retifismo (pés e calçados) ou "pygolatria" (nadegas).

Puxando a brasa para a minha sardinha, ja suggeri "podosmophilia" e
"dysodophilia" para o odor dos pés, para não dizer "chulepentismo".
Tambem suggiro "ichnophilia" para a fixação na sola ou no solado como
objecto do desejo fetichista, ou ainda "platypodophilia" para a adoração
dos pés chatos. Para pés cavos, "cyrtopodophilia". Para pés callejados,
"tylopodophilia". Para pés bellos, "callipodophilia". Para pés
masculinos, "andropodophilia". Para pés descalços, "gymnopodophilia".
Para pés descalços femininos, "gymnogynopodophilia". Para pés sujos de
molecão, "rhypephebopodophilia". Para a attracção por botas,
"cothurnophilia", obviamente, ja define. Alternativas, emfim, não
faltam...

Para quem considera taes neologismos feios demais e acha que esses
vocabulos servem mais para designar morbidades e morbidezas, bem calha
este soneto:


SONETO PARA A PARAPHRASE DO BULLARIO [3081]

É como minha thia ja dizia:
quem for hypochondriaco está feito!
Não falta uma molestia, si o sujeito
faz poncto na pharmacia todo dia...

Bronchite, erysipela, cystalgia,
anthraz, asthma, aphtha, typho, dor no peito,
phleimão, syphilis, polypos, mau jeito,
phthiriase, ecchymose, hemorrhagia...

rhinite, grippe, phthisica, lymphoma,
endocrinopathia, amygdalite,
dysmnesia, diarrhéa... e mais se somma.

Não ha, tambem, antidoto que evite
os males orthographicos: quem doma
os etymos é immune a algum "graffite"?

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2 comentários:

  1. Olá!

    Reparei que num texto de Maio constava que "nem todos têm acesso ao Diccionario do Caldas Aulete"...

    Pois bem, há uns tempos consegui que a Universidade de Michigan disponibilizasse ambos o volumes online!

    http://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=nnc1.1002458373;view=1up;seq=922
    http://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015028326943;view=1up;seq=579

    Adoro a causa! O futuro ninguém sabe, nada é impossível.

    Cumprimentos de Portugal!

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  2. do outro lado do oceano28 de outubro de 2013 às 21:14

    Aproveito para dizer que já vasculhei o Tractado do Glauco. Magnífico! Reparei nalgumas diferenças com o diccionario do Caldas. Por exemplo, à em vez de á, nelle em vez de n'elle... Não tenho acesso aos outros dicionários (brasileiros), mas se soubesse uma maneira de encontrá-los online, adoraria que disponibilizasse URL!

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