sábado, 19 de julho de 2014

JULHO/2014: ESCHIZOPHRENIAS DA DIGRAPHIA


Questão das mais primordiaes me propõe o leitor Ataulpho Barrozo: "Você
é capaz de esclarecer por que os americanos e inglezes escrevem BRAZIL
com 'Z' e BRASILIA com 'S'? Esta não seria mais uma das incongruencias
daquelle idioma, ao lado de PARALYMPICS e de PAROXYTON? Aproveitando a
pergunta, Glauco, que tal averiguar por que, para elles, AUCTOR é
AUTHOR?"


Bem lembrado, Ataulpho. E sempre é bom lembrar que a lingua ingleza é
das mais conservadoras. Elles nunca mudam um graphema, ainda que outros
idiomas o façam. Elles escrevem BRAZIL como nós mesmos escreviamos até o
seculo XIX e escrevem BRASILIA porque nós mesmos começamos a escrever
assim desde que a cidade foi projectada, ja no seculo XX. Si nós mudamos
de "Z" para "S" no nome do paiz, elles nem tomaram conhecimento. Si nós
mudassemos de "S" para "Z" no nome da capital, elles continuariam a
graphar BRASILIA. Mas o que realmente importa é a razão da nossa graphia
com "Z". Até o seculo XIX a forma usual era BRAZIL e BRAZA, como consta
do diccionario Aulete, cuja edição original é de 1881. Ja no seculo XX
foi se firmando a forma BRASIL ao lado de BRASA, mesmo antes da reforma
phoneticista de 1943. O diccionario Lello registra BRASIL, embora
admitta BRASA ao lado de BRAZA, e o MANUAL ORTHOGRAPHICO de Julio
Nogueira confirma o gentilico BRASILEIRO. Em these, ambas as formas
seriam acceitaveis, mas, tractando-se do nome do paiz, seria de esperar
que houvesse uma graphia official. Si considerarmos a moeda corrente
como documento fidedigno, basta constatar que, nas antigas cedulas, o
paiz se chamava REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL, e estaria
encerrada a questão. Quanto à capital, bastaria recordar que o titulo de
seu principal jornal é CORREIO BRAZILIENSE e que tal nome remonta ao
orgam homonymo do seculo anterior. Assim sendo, um etymologista cioso e
sciente deveria preferir BRAZA, BRAZIL, BRAZILEIRO, BRAZILIA e
BRAZILIENSE, como eu mesmo me inclino a adoptar, a despeito dos
desavisados que acreditam ser a forma com "Z" mero anglicismo.


Quanto ao substantivo commum AUCTOR, que herdamos do latim, os inglezes
tendem à forma AUTHOR mais por questão da pronuncia delles. Pelo mesmo
motivo grapham o nome proprio ARTHUR e não ARCTUR, do latim ARCTURUS,
como deveria ser. Mas ahi ja não é questão da nossa competencia. Ja
temos problemas de sobra com nossas proprias crises de identidade, visto
que somos o paiz do futuro mas nem siquer fomos capazes de nos baptizar
officialmente no passado...


Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.


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