sábado, 9 de maio de 2015

MAIO/2015: A PRACTICA ATTICA RHYMANDO COM A GRAMMATICA


Si o atticismo é synonymo de rigor formal na linguagem escripta, pode-se
dizer que uma attitude attica em relação à orthographia adjuda a
esclarescer diversas questões grammaticaes, dessas que alguns
professores respondem pela imprensa ou pelo radio. Sinão, vejamos:

A differença entre RECTIFICAR e RATIFICAR fica mais evidente quando,
pela norma etymologica, verificamos que RECTIFICAR corresponde a RECTO e
CORRECTO, sendo, portanto, equivalente a CORRIGIR. Quanto a RATIFICAR
(com um só "T"), equivalente a CONFIRMAR, o factor mnemonico adjutorio
seria o sentido opposto ao do substantivo RATA (erro ou falha, com dois
"TT"), ou seja, RATIFICAR (latim RATIFICARE) é reaffirmar o que está
certo, emquanto RATTEAR é commetter erros ou RATTAS, e não deve ser
confundido com o verbo RATEAR, de RATEIO. O substantivo RATTA, por sua
vez, tambem se oppõe a ERRATA, synonymo de correcção, ja que uma ERRATA
repara uma RATTA.

A differença entre DESPERCEBIDO e DESAPPERCEBIDO fica mais evidente
quando, pela duplicidade do "P", verificamos que APPERCEBER-SE
corresponde a prevenir-se, ter cuidado ou attenção, e DESAPPERCEBER-SE
corresponde à desattenção. Fica, portanto, mais facil de comprehender
que um facto passa DESPERCEBIDO quando ninguem repara nelle e que um
subjeito DESAPPERCEBIDO é aquelle cuja distracção ou desinformação o
impediu de prestar attenção em algo importante. Por outras palavras, uma
situação de perigo pode passar DESPERCEBIDA quando alguem está
DESAPPERCEBIDO della.

A differença entre EMIGRANTE e IMMIGRANTE fica mais evidente si tivermos
em mente que em IMMIGRANTE occorre a assimilação do "IN" (para dentro) e
em EMIGRANTE a assimilação do "EX" (para fora), sendo, portanto,
IMMIGRANTE aquelle que vem de fora e EMIGRANTE aquelle que vae para
fora, do poncto de vista de quem está num logar. O substantivo em
questão é MIGRANTE, quando o poncto de vista é de quem não se posiciona
naquelle poncto, mas apenas observa de longe.

A differença entre os verbos COMPROMETTER e COMPROMISSAR nem deveria
existir. Basta o verbo COMPROMETTER correspondendo ao substantivo
COMPROMISSO. Occorre que COMPROMETTER ganhou uma accepção meio negativa,
suspeita, meio... compromettedora, dahi a alternativa COMPROMISSAR, pois
alguns politicos, por exemplo, preferem estar compromissados com alguma
causa a estar compromettidos com algum escandalo. Ja o substantivo
COMPROMETTIMENTO, usado tanto por politicos como por esportistas, soa
desnecessario, para não dizer descabido, tal como o APPOIAMENTO que
muitos politicos adoram. Si fossemos por esse caminho, daqui a pouco
teriamos os verbos COMPROMETTIMENTAR e APPOIAMENTAR. Vamos com calma.

Quanto aos verbos EMPANAR e EMPENAR, temos uma subtil alternativa
graphica em ambos. No sentido culinario, EMPANAR (de PÃO) leva um só
"N", mas no sentido de offuscar leva dois, pois EMPANNAR vem de PANNO.
No sentido de entortar, EMPENAR leva um só "N" (de PINO, como EMPINAR),
mas no sentido de emplumar leva dois, pois EMPENNAR vem de PENNA. Eu até
levantaria a hypothese de que só deveria haver EMPENNAR com "N" duplo,
pois toda penna que vi na vida era torta, mas si os etymologistas foram
buscar o radical de PINO (latim PINUS), não vou discutir.

Taes verbos nos remettem à questão da falsa homographia accarretada
pelas reformas phoneticistas. Entre ADITO (entrada), ADYTO (sanctuario)
e ADDITO (somma), falsamente graphadas como "ádito"; CANTO (vocal) e
CANTHO (local); COLA (cauda) e COLLA (gomma); PENA (punição, dó) e PENNA
(pluma); ESCATOLOGIA (fezes) e ESCHATOLOGIA (finalidades); GRAMA (matto)
e GRAMMA (peso); FATO (roupa) e FACTO (occorrencia); FILTRO (crivo) e
PHILTRO (bebida); PATA (ave) e PATTA (membro); RESONAR (som) e RESOMNAR
(somno), falsamente graphadas como "ressonar"; SUMO (succo) e SUMMO
(supremo); EU CONSUMO (consumir) e EU CONSUMMO (consummar), a
exemplificação deixa evidente o motivo de taes vocabulos não serem
confundiveis, pelo simples facto de não serem homographos, como a
escripta phonetica falsamente suggere.

Ja o caso do adjectivo IMMEXIVEL meresce commentario mais amplo. Si bem
me lembro, o termo foi introduzido por Rogerio Magri quando ministro do
trabalho de Collor, para referir-se à intangibilidade de certos direitos
adquiridos, tal como fez a actual presidente ao empregar a expressão
"nem que a vacca tussa" para garantir que não mexeria na legislação
trabalhista. Por fallar em bichos, Magri era ridicularizado por suas
declarações impensadas (como quando, flagrado transportando a cadella de
estimação ao veterinario em vehiculo official, teria allegado que
"cachorro tambem é um ser humano") e o termo IMMEXIVEL entrou no
folklore jornalistico e grammatical como evidencia do despreparo do
syndicalista. Piccuinhas politicas à parte, cabe assignalar que, tal
como o vocabulo INTOCAVEL (que não pode ser tocado), IMMEXIVEL é
perfeitamente acceitavel dentro dos principios da morphologia vernacula.
Para nós, orthographos, o que importa é comparar INTOCAVEL e IMMEXIVEL
face ao prefixo "IN", que, no caso de morphema iniciado em "M", implica
assimilação e consequente geminação, como em IMMATERIAL, IMMIGRANTE ou
IMMUTAVEL. Dicto isto, não respondo pelas demais arbitrariedades
practicadas pelo ministro, mas endosso quaesquer vocabulos cunhados à
semelhança deste, como IMMAMMAVEL, IMMERDAVEL, IMMIJAVEL, IMMOSTRAVEL ou
IMMUSICAVEL. E fim de pappo.

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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