sábado, 29 de abril de 2017

MAIO/2017: BIODIVERSIDADES DO SYSTEMA ECORTHOGRAPHICO


Nunca me canso de dizer que a orthographia é o patrimonio ambiental da
falla. Por isso, a exemplo dos ecologistas que tanto battalham pelos
biomas e topomas do systema terraqueo, eu battalho pelo graphoma dos
graphemas e acho cada "PH", cada "Y", cada lettra dupla um monumento ou
especimen a ser preservado, tal como uma egreja barroca em Minas, um
sobrado em Salvador ou uma arara na matta tropical, equivalendo a uma
cathedral gothica ou uma arena romana na Europa. Mas ha casos em que,
mesmo mantendo a tradição escripta, temos de admittir que a graphia de
certas palavras é mais simples do que a physiognomia do morphema pode
suggerir. As perguntas de alguns consulentes evidenciam essa apparente
"necessidade" de complexidade que, entretanto, não se verifica. Vejamos.


Um leitor questiona: si COMMISSÃO e COMMITTÊ levam geminações, por que
COMICHÃO, COMITIVA e COMICIO não levam?


Respondendo: o etymologismo verbal latino MITTERE é um dos mais
prolificos em derivações vernaculas, tanto no graphema METTER como no
graphema MITTIR. Assim, temos ADMITTIR e ADMISSÃO, COMMETTER e
COMMISSÃO, DEMITTIR e DEMISSÃO, EMITTIR e EMISSÃO, IMMITTIR e IMMISSÃO,
OMMITTIR e OMMISSÃO, PROMETTER, PROMISSÃO e PROMESSA, REMETTER, REMISSÃO e REMESSA, SUBMETTER e SUBMISSÃO ou TRANSMITTIR e TRANSMISSÃO. A palavra COMMITTÊ tambem tem essa origem. Ja COMICHÃO vem de COMESTIONE (segundo o Aurelio), emquanto o Aulete e o Lello esclarescem que deriva simplesmente do verbo COMER, como COMEÇÃO ou COMILANÇA. Quanto a COMITIVA, vem assim do latim (de COMES/COMITIS) e COMICIO do latim COMITIUM. Nesses casos, só nos resta memorizar cada uma para evitar confusões, particularmente no caso politico dum committê que organiza um
comicio ou duma commissão parlamentar que investiga os gastos de alguma comitiva...


Outro questiona: si HYSTERIA, AMPHITRYÃO e HYPERTENSÃO levam "Y", por
que HISTRIÃO e HIBERNAÇÃO não levam?


Respondendo: os exemplos com "Y" são hellenismos, excepto HYPERTENSÃO,
um hybridismo onde HYPER vem do grego. Ja HISTRIÃO vem do latim HISTRIO,
que tambem deu o adjectivo HISTRIONICUS, emquanto HIBERNAÇÃO vem de
HIBERNATIO, de HIBERNUM. Dahi o motivo pelo qual tambem HINVERNO deve
levar "H". Portanto, uma pessoa hysterica pode ser histrionica, mas não
em tudo.


Outro questiona: si SUMMA e SUMMULA, que envolvem a noção de synthese,
levam "M" geminado, por que a palavra RESUMO, de egual forma e sentido,
não leva?


Respondendo: SUMMA, SUMMULA, SUMMARIO chegam assim do latim e não cabe
contestação. Ja o graphema SUMIR (do latim SUMERE), que participa de
verbos como ASSUMIR, CONSUMIR e PRESUMIR, não se confunde com o primeiro
caso, lembrando que o verbo SUMIR, no sentido de desapparescer, tambem
vem de SUMERE. Parallelamente ao verbo CONSUMIR, é o verbo CONSUMMAR que
tem, este sim, a ver com SUMMA, pois envolve a idéa de algo accabado no
sentido de completo, emquanto CONSUMIR envolve a idéa de algo accabado
no sentido de esvaziado. Para exemplificar, posso dizer que, num
restaurante, eu CONSUMMO (satisfaço, realizo) meu prazer gastronomico
mas para isso CONSUMO (gasto, esbanjo) toda a minha grana, ou, por
outra, meu prazer se CONSUMMA mas CONSOME meus recursos. Paresce subtil,
mas são coisas do proprio latim.


Outro questiona: si BACCHANAL tem a ver com Baccho, o adjectivo BACANA
tambem não teria? E o adjectivo SAFADO, não teria a ver com SAPPHO?


Respondendo: segundo os etymologistas, BACANA é motivo de divergencias
entre o argentinismo hespanhol e o italianismo, mas teria a ver com
BACANO, possivelmente do italiano BACCANO, que teria a ver com
BACCHANTE. Logo, não seria exaggero affirmar que BACANA poderia ser
graphado como BACCHANA e que o escriptor decide. Quanto a SAFADO, do
verbo SAFAR(-SE), equivale ao participio SAFO, que tambem é objecto de
divergencia entre uma extranha origem arabe e uma ainda mais extranha,
ingleza: o adjectivo SAFE, no sentido de excappo ou a salvo. Ora, como a
noção de SAFADEZA equivale à de SACANAGEM, ha quem sustente que o
sentido de SAFO tem, sim, a ver com a poetiza grega SAPPHO, pelo facto
de ser lesbica e, na concepção vulgar, despudorada e pornographica. Dahi
se deprehende que graphar SAFADO como SAPPHADO não seria de todo
improprio, justamente pelo sentido improprio aos bons costumes... Mas
ainda ha quem diga que SAFADO vem de SAFARDANA ou SAPHARDAMNA, que por
sua vez viria duma mixtura das palavras SEPHARDITA e DAMNAR, mas,
descomptado o factor pejorativo e preconceituoso contra os judeus, tal
hypothese paresce um tanto forçada. Em todo caso, um "PH" nessa palavra
não pode ser deschartado como alternativa plausivel.


Por fim, outro questiona si o verbo AFOBAR não teria a ver com PHOBIA,
caso em que se escreveria com "PH".


Respondendo, consta dos diccionarios que AFOBAR tem "origem obscura",
expressão usada quando querem tirar o cu da recta, em bom portuguez.
Claro que ha explicações para qualquer vocabulo, ainda que
controvertidas. Uma dellas é que seria uma hyperthese de ABBOFAR, de
BOFE, suggerindo que a pessoa abbofada (ou esbofada, ou esbaforida)
estaria botando os bofes pela bocca, ou seja, appressando-se,
affligindo-se. Tambem as noções onomatopaicas de BAFO e de BUFAR podem
entrar nessas interpretações. Si prevalescesse a these de BOFAR com
troca de consoantes para FOBAR, é logico que o prefixo "AD", ao entrar
em scena, geraria o verbo AFFOBAR, com geminação do "F". Mas as
possiveis explicações não param por ahi. Tambem ja encontrei aquelloutra
de que alguem admedrontado ou appavorado poderia se appressar ou se
precipitar, dahi o sentido de PHOBIA associado à soffreguidão, caso em
que o prefixo latino "AD", assimilado pelo infixo grego PHOBO, geraria
um raro hybridismo em APPHOBAR, onde o "P" se geminaria, como o "C" em
ACCHATAR. Mas a decisão de acceitar tal hypothese fica a cargo do
orthographo, ou do ecorthographo, caso o subjeito se conscientize de que
o ambientalismo linguistico se extende aos mais exoticos especimens de
"PH" a serem preservados da extincção, ou do desuso.


///

Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT

///

sábado, 25 de março de 2017

ABRIL/2017: QUESTOENS DE ACCENTUAÇAM NA DIPHTHONGAÇAM ANNASALADA


Uma questão que sempre volta à superficie e fluctua ao sabor das marés
grammaticaes é o emprego do til. A proposito da minha proposta de
"minima accentuação", caberia um addendo ao topico [4.3] do meu
DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO, à luz das considerações levantadas pelo
attento leitor Alexandre Pires, adepto da abolição do til em favor da
corrente que graphava CAMOENS ou ALPHONSUS DE GUIMARAENS. Em principio,
seria essa uma tendencia a ser levada em compta por aquelles que não
perderiam opportunidade de dispensar mais um signalzinho incommodo,
especialmente na era digital. Antes de equacionar a questão para
chegarmos ao referido addendo, vou transcrever algo que normatizava
Julio Nogueira em seu MANUAL ORTHOGRAPHICO BRAZILEIRO, quanto ao
diphthongo "ÃO".


{A graphia "ÃO" é sempre final da palavra ou do seu radical: PAIXÃO,
SAYÃO, JAPÃO, PÃO, CÃO e CÃOZINHO, etc. [...] Nas formas verbaes em que
o diphthongo final é tonico escreve-se "ÃO", como em: VÃO, SERÃO, DÃO,
FARÃO, SÃO, ESTÃO, DIRÃO etc. Nas em que elle é atono a escripta é "AM":
FORAM, ERAM, DERAM, DISSERAM, etc. O diphthongo "ÃO", tonico ou atono,
ja se escreveu com o til na subjunctiva. Era esta a forma commum de
Duarte Nunes do Lião, na sua "Orthographia". Este mesmo auctor escrevia
"AM", a par de "ÃO". O Sr. Ribeiro de Vasconcellos, modernamente, na sua
grammatica, usa das formas SAM, DAM, ESTAM, a par de NÃO. Camões
escreveu o diphthongo "AM":


"Fuy capitam do mar por onde andaua" (...)
"Onde imaginaçoens mais certas sam" (...)
"De seu officio & sangue a obrigaçam"


Mas tambem escreveu "ÃO":


"Que cada Região produze e cria"


As duas formas apparescem alternadas no seguinte disticho:


"Deixa intentado a humana geraçam:
Misera sorte, extranha condição" (L. IV, 104)


A escripta deste diphthongo é mais um facto proprio do genio da lingua
que um resultado de mutações morphologicas, pois apparesce com uma forma
convergente de innumeras fontes. Em SÃO e VÃO (nomes) é uma transcripção
popular de "ANU" (SANU, VANU); em SÃO e VÃO (verbos) representa a
terminação "UNT" ou "ADUNT" (SUNT, VADUNT); em PÃO, CÃO corresponde à
final "ANE"; em formas verbaes como DÃO, ESTÃO tem por antecedente a
terminação "ANT": DANT, STANT; em linguagens do futuro: AMARÃO, SERÃO,
PARTIRÃO, PORÃO o diphthongo não é mais que a terceira pessoa do plural
do indicativo de HAVER na forma anteclassica, despida do "H" etymologico
"-ÃO". Assim, o melhor é estabelescer preceitos meramente practicos.}


Divergindo de Nogueira em alguns ponctos, grammaticos como Eduardo
Carlos Pereira concordavam, basicamente, no seguinte:


1 - Escrever "ÃO" no final de palavra aguda ou de raiz de palavra aguda
que entre na formação de derivações: CÃO, CÃOZINHO.


2 - Escrever "AM" no final de certos nomes não agudos, sem necessidade
de auxiliar a pronuncia com o accento inconveniente na tonica da
palavra: ORGAM, ORPHAM, BENÇAM, RHABAM, SOTAM, ESTEVAM, CHRISTOVAM, etc.


3 - Escrever "AM" no final de formas verbaes não agudas: FORAM, ERAM,
SERIAM etc.


Caso optassemos pela abolição do til tambem nas formas oxytonas,
teriamos que resolver determinadas pendencias, a saber:


1 - Si, em logar de CÃO, grapharmos CAM, como ficaria o plural,
inclusive do diminutivo e augmentativo? Segundo a escripta camoneana, o
plural seria CAENS. Segundo a regra nogueiriana, o diminutivo seria
CANZINHO, mas o plural CAENSINHOS. Quanto ao augmentativo, CANZARRÃO,
CANZARROENS.


2 - Si, em logar de MÃO, graphassemos MAM, o plural seria MANS? E as
formas diminutiva e augmentativa? MANZINHA e MANZONA? Si, em logar de
MÃE, graphassemos MAEM, teriamos MAENS e MAENZINHAS?


3 - Si, alem da forma feminina CHRISTAN, graphassemos a forma masculina
como CHRISTAM em logar de CHRISTÃO, como ficariam os pluraes e
diminutivos? Teriam que ser homographos, CHRISTANS, ao lado de
CHRISTANZINHOS e CHRISTANZINHAS?


4 - Si, em logar das formas substantivas BOTÃO, CAGÃO, CHORÃO, COLHÃO,
FUJÃO, MIJÃO, PAPPÃO ou PENSÃO, graphassemos o diphthongo como "AM",
teriamos que accentuar as formas verbaes homographas BOTAM (BOTAR),
CAGAM (CAGAR), CHORAM (CHORAR), COLHAM (COLHER), FUJAM (FUGIR), MIJAM
(MIJAR), PAPPAM (PAPPAR) e PENSAM (PENSAR)? Não seria um inconveniente
emprego de agudos e circumflexos para marcar os paroxytonos BÓTAM,
CÁGAM, CHÓRAM, CÔLHAM, FÚJAM, MÍJAM, PÁPPAM e PÊNSAM?


5 - Si, em logar de PÕE, COMPÕE, EXPÕE, OPPÕE, SUPPÕE e outras formas
verbaes da terceira pessoa do singular, graphassemos POEM, COMPOEM,
EXPOEM, OPPOEM e SUPPOEM, como ficariam as formas da terceira pessoa do
plural? Teriamos, neste caso, de conviver com uma incommoda e confusa
homographia.


6 - Si, em logar de AMARÃO e VENDERÃO, graphassemos as formas futuras
como AMARAM e VENDERAM, não se crearia uma perigosa homographia com as
formas preteritas? Não seria incoherente com a minima accentuação
recorrermos a um accento agudo ou circumflexo para compensar o til
dispensado nestas formas preteritas, AMÁRAM, VENDÊRAM? Talvez não, si
considerassemos que a quantidade de vocabulos verbaes seria muito menor
que aquellas oxytonas todas dispensadas do til. Uma relação de
custo/beneficio a ser levada em compta.


7 - Si, em logar de "ÃO", grapharmos "AM", restaria intacta uma
ambiguidade em relação ao graphema "ON", predominante nas formas
derivadas. Emquanto nomes como ADAM, ABRAHAM, SEBASTIAM ou SAM BENEDICTO
geram adjectivos em "A" como ADAMICO, ABRAHAMICO, SEBASTIANISTA e
SAMBENEDICTENSE, outros como AARAM, SIMAM e SALOMAM geram adjectivos em
"O" como AARONICO, SIMONENSE e SALOMONICO. A tendencia será maior em
direcção à vogal "O", como em CAMPEAM/CAMPEONATO, LEAM/LEONINO,
HISTRIAM/HISTRIONICO ou TABELLIAM/TABELLIONATO, mais conforme ao plural
em "O", como em CAMPEOENS, LEOENS e HISTRIOENS, predominante no
portuguez, a par de TABELLIAENS. Nada, porem, que não se accommode aos
habitos do escriptor.


Assim sendo, o melhor é deixar a criterio de cada orthographo a decisão
de manter ou abolir o til. Pessoalmente, prefiro mantel-o para evitar
maiores conflictos, mas estou accrescentando as formas alternativas ao
DICCIONARIO, para registrar meu reconhescimento à contribuição de
leitores como Alexandre Pires. Até a proxima!


///

Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT

///

MARÇO/2017: FALSOS AMIGOS HESPANHOES E ITALIANOS


Para aquelles que acham o hespanhol muito apparentado ao portuguez, ou
que recorrem ao "portunhol" como si fosse sufficiente para um reciproco
entendimento, suggiro a traducção do seguinte paragrapho.


Allá viene un tarado pelado con su saco en las manos corriendo atrás de la
buseta. La perdió y quedó dando puñetazos al aire.


O sentido correcto nada tem de chulo nem obsceno, ao contrario do que
pode parescer:


Lá vem um doido careca com seu paletó nas mãos correndo attraz do
microomnibus. Perdeu-o e ficou dando socos ao ar.


Essa pegadinha de estudantes pode illustrar algo mais que uma armadilha
idiomatica. Tambem nas questões orthographicas é preciso tomar cuidado
com as analogias. Não é porque "nuestros hermanos" usam um "H" que
podemos ir graphando IRMÃO com essa inicial, nem porque escrevem
"español" que vamos tirar o "H" de HESPANHOL. Vale sempre conferir a
matriz latina, levando-se em compta a propria tradição lusophona.


Um problema que passa despercebido à maioria dos orthographos é que os
auctores de diccionarios são tendenciosos e capciosos quando
compromettidos com o phoneticismo. No intuito de "empurrar" a
simplificação reformista, escamoteiam matrizes etymologicas e dão
hespanholismos ou italianismos como "origem", a fim de desviar a
attenção do consulente. Cito os casos de AFFICCIONADO, TERTULLIA,
HARPEJO e EXTORNO.


AFFICCIONADO, segundo os lexicographos, vem do hespanhol AFICIONADO,
como si isso bastasse para nos obrigar a fazer de compta que não
preexistem o prefixo latino "AD" e o substantivo FEIÇÃO, alem de formas
correlatas como AFFECTO e AFFECÇÃO, ao lado de AFFEIÇÃO. Por mais que a
especificidade do significado seja hispanica, orthographicamente o que
deve valer é a morphologia tradicional na hora de apportuguezarmos o
vocabulo, evidentemente. O mais vernaculo seria AFFECCIONADO, mas
admitte-se o "I" pelo "E" para characterizar uma accepção menos
physiologica que psychologica. A proposito, a palavra PSYCHOLOGIA é
exemplo gritante de como o phoneticismo não pode servir de parametro
para qualquer reforma, pois em hespanhol virou SICOLOGÍA, forma que,
alem de absurda, induz à confusão com SYCOLOGIA, que em portuguez
significa o estudo dos figos, devido ao etymo grego SYCO.


TERTULLIA apparesce nos diccionarios como sendo de origem castelhana,
dahi levar um só "L". Mentira. O significado da palavra pode ter sido
concebido naquelle idioma, mas a palavra em si tem obvia origem no nome
do ecclesiastico catholico Tertulliano, donde o termo TERTULLIANISMO.
Ora, fica claro que, num portuguez que se queira etymologico, TERTULLIA
tem de levar "L" duplo, e fim de pappo.


HARPEJO, obvia derivação de HARPA, apparesce em varios diccionarios como
ARPEJO, só porque existe ARPEGGIO no italiano. Ora, é claro que, no
sentido technicamente musical, a origem immediata é italiana, mas a
origem remota é que deve prevalescer neste caso.


EXTORNO, por sua vez, vem allegadamente do italiano STORNO, pretexto
para que alguns lexicographos desrecommendem o "X". Outro caso em que,
si a accepção especificamente financeira pode ser a italiana, a
morphologia e a semantica exigem o prefixo "EX" latino, ao contrario do
café ESPRESSO, onde o "S" é necessario para differenciar de EXPRESSO, ja
que o sentido não é o dum preparo rapido e sim dum resultado obtido sob
pressão.


Ainda no terreno das distincções necessarias, approveito para lembrar
que GRAFFITE não é o mesmo que GRAPHITE, dahi a acceitação do
italianismo GRAFFITTI, para differenciar, no minimo, um lapis dum
spray...


Isto dicto, vou parando por aqui e volto em breve. Até!


///

Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT

MARÇO/2017: QUANDO "CORRECTOR" É CORRIGIDO PARA "CORRETOR"



Ultimamente tenho recebido poucas mensagens de consulentes, mas copio
abbaixo algumas interessantes às quaes respondi pelo email que utilizo:
mattosog@gmail.com


Alexandre Pires observou que meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO não
assignalava a differença entre CORRECTOR (aquelle ou aquillo que
corrige) e CORRETOR (que faz corretagem), ja que CORRIGIR e CORRETAR
teem etymos distinctos.


Bem observado, Alexandre. Lembro-me de ter attentado para a questão na
epocha em que elaborava este blog, CORRECTOR ORTHOGRAPHICO, mas faltou a
resalva no diccionario, que estou providenciando. O curioso era que
alguns orthographos admittiam só a graphia CORRECTOR, como si a
intermediação commercial presuppuzesse um accerto ou negocio
justo/correcto, desconsiderando que a CORRETAGEM vem de CORRER (como em
"moeda corrente") e não de CORRIGIR. Eu mesmo posso ter escripto errado
em algum momento, ainda que a accepção CORRETOR seja de uso mais
restricto a uma profissão.


Kayky Macedo estava em duvida sobre a origem e a graphia de seu prenome.


Caro Kayky, seu prenome pode ser escripto de qualquer maneira, como você
mesmo demonstra, ja que não tem origem formal no portuguez ou em
qualquer idioma amerindio. Na verdade, tracta-se de uma confusão que
tambem occorre com diversos outros hypocoristicos transformados em
prenomes, taes como Cadu (de Carlos Eduardo), Cabé (de Carlos Alberto),
Joca (de João Carlos) ou Zeca (de José Carlos): como não são formas
officiaes, accabam surgindo graphias typo KADU, KABÉ, JOCA ou ZEKA,
quando alguem resolve baptizar "creativamente" um filho. No seu caso,
seria a forma abbreviada de Carlos Henrique, appellido que virou moda em
algum momento (talvez por causa duma telenovella) e, com o tempo, passou
a ser graphado como identicos modismos "indigenas" typo Kauê ou Kauan.
Nada pessoal contra, meu caro, mas nos States seu nome teria pronuncia
totalmente diversa e, mesmo aqui, sempre suscitaria divergencias. O
importante é estarmos satisfeitos com nossos nomes, não é?


Vera Guimarães perguntou duas coisas: o motivo de escrevermos APPETITE
com "P" duplo e APERITIVO com "P" simples, bem como o motivo de
escrevermos AIPO com "I" e AYPIM com "Y".


Simples, Vera. APPETITE vem do latim APPETITUS, mas aquillo que abre o
appetite é APERITIVO porque "abrir" vem do latim APERIRE. Ja AIPO vem do
latim APIUM, emquanto AYPIM vem do tupy. Não são, portanto, cognatos,
como pode parescer.


Wilson Borges, a proposito das tornozelleiras electronicas tão em voga,
perguntou por que a maioria dos orthographos escreve TORNOZELLO com um
só "L" e COTOVELLO com dois. Elle tambem quiz saber por que escrevo
ESCANTHEIO quando me refiro à cobrança dum "corner" no futebol.


Wilson, transcrevo a resposta que ja dei neste blog. Todos os
diccionarios registravam COTOVELLO com "L" duplo mas simplificavam o "L"
de TORNOZELO, talvez devido ao latinismo da primeira
(CUBITUS/CUBITELLUS) e ao hellenismo da segunda (TORNOS+OZOS),
theoricamente insufficiente para explicar a desinencia latina "ELLO".
Por analogia, poderiamos admittir o graphema "ELLO" para ambas, sem
grande violencia contra a tradição vernacula, como no caso de CABELLO e
PELLO (respectivamente, CAPILLUS e PILUS, mas tambem PILLUS); acho,
porem, que a materia deve ficar a criterio de cada escriptor. Quanto ao
termo ESCANTHEIO, tracta-se de simples derivação. Ha differença entre
CANTO (no sentido musical, do latim CANTUS) e CANTHO (no sentido
espacial, do latim CANTHUS), donde o tiro de cantho ter de ser escripto
com "TH", dahi ESCANTHEIO. O mesmo vale para CANTHONEIRA, ACCANTHONAR e
outros derivados.


Lucas Barbosa indagou si não seria preferivel escrever EFFECTO e DOCTOR,
a exemplo do inglez, ja que seriam formas mais proximas da matriz
etymologica que EFFEITO e DOUTOR.


Não, Lucas, tem de ser DOUTOR mesmo e não DOCTOR. Guarde estas duas
dicas basicas e você vae evitar divagações linguisticas:


Primeira: a orthographia etymologica não mexe em consoantes que viraram
vogaes, como em DOUTOR e OUTUBRO ao lado de OITAVO e NOITE, nem em
vogaes que se transformam, como em OURO e AUREO, BOCCA e BUCCAL. Ella só
corrige a escripta em caso de consoantes mudas (AUCTOR, ELECTRICO),
duplicadas (COMMERCIO, LITTERATURA) ou digrammaticas (PHILOSOPHIA,
CHYMICA, MATHEMATICA), ou seja, deixa à phonetica o que é pronunciado e
exige da tradição o que é escripto, embora nem sempre coincida a
pronuncia com a escripta, como em EGUAL/EGUAES, CREANÇA, LOGAR ou
MOLEQUE.


Segunda: o inglez não serve como regra, só como parametro consonantal,
como em COMMERCIO, SCIENCIA, PHYSIOLOGIA ou PSYCHOLOGIA. Mas, seja em
caso de consoantes ou vogaes, é preciso cuidado com outros idiomas, como
em AUCTOR, LITTERATURA, PHANTASIA, PAROLYMPICO ou OCTOGONO, que elles
escrevem errado: AUTHOR, LITERATURE, FANTASY, PARALYMPIC, OCTAGON.

///

Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT