sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

DEZEMBRO/2014: COEXISTENCIAS INCOHERENTES


Ja fui consultado sobre o emprego do apostropho em formas contractas com
preposições, como DUM, NUM, DESTE, NESTE, PRUM ou PRESTE, e volto ao
assumpto porque me apponctaram uma incoherencia quando escrevo P'RA com
o signal e PRO ou PRUM sem elle. Esclaresço que nada tenho contra tal
signalização mas somente a emprego quando previno algum erro de revisão.
Fora disso, prefiro ser coherente com o principio da minima accentuação.
No caso da syncope do "A" em P'RA, julgo-a necessaria porque um
monosyllabo não pode correr o risco de ser "corrigido" para disyllabo,
ja que comprometteria a metrificação dum verso. Mas si escrevo PRO ou
PRAQUELLE a intenção colloquial é tão inequivoca que dispensa as
apostrophações. Mesmo no caso de DESTE ou PRESTE, que hypotheticamente
causariam confusão com os verbos DAR e PRESTAR, o contexto é sufficiente
para o entendimento. Portanto, reitero que valem ambos os criterios, com
ou sem apostropho.


Alguns internautas ja me questionaram accerca duma inevitavel
incoherencia no emprego do "H" em vocabulos cuja pronuncia envolva
hiato, como entre SAUDE e SAHUVA. Por mim, o "H" entraria sempre que
fosse o caso, mas SAUDE é cognato de SAUDAR e SAUDAVEL, onde o hiato dá
logar ao diphthongo, dahi ser preferivel a coherencia entre cognatos à
coherencia entre substantivos de differentes etymologias, como o
latinismo SAUDE e o tupynismo SAHUVA. Alguem poderia contraargumentar
que entre BAHU e ABBAHULADO o "H" não se perde, a despeito da possivel
diphthongação do adjectivo, mas esta seria uma acceitavel excepção.
Assim, permanescem apparentemente incoherentes as graphias entre RAUL e
JAHU ou entre GRAUDO e GRAJAHU.


Outros me questionam accerca da supposta incoherencia no uso do
latinismo "AD" em casos de assimilação, como nos verbos ACCONDICIONAR ou
ADMEAÇAR, criterio que às vezes não observo em verbos como ACONTECER ou
AMEDRONTAR, que, a rigor, deveriam ser ACCONTESCER e ADMEDRONTAR. Por
extensão, apponctam-me que seria incoherente graphar EXCAPPAR ao lado de
ESQUECER. Vamos aos factos. As etymologias de ACCONTESCER, ADMEDRONTAR e
EXQUESCER implicam alterações mais deformadoras que nos casos normaes de
prefixação ou suffixação. ACCONTESCER vem de AD+CONTINGESCERE;
ADMEDRONTAR vem do archaismo AD+MEDOR+ENTAR, onde MEDOR fas analogia com
HORROR e PAVOR mas contraria o latinismo METUS, que deu MEDO; EXQUESCER,
por seu turno, viria de EX+CADESCERE. Nesses casos a simplificação para
ACONTECER, AMEDRONTAR e ESQUECER não resulta da arbitrariedade dos
phoneticistas reformadores e sim da dynamica do idioma attravez dos
annos ou seculos. Valem, portanto, ambos os criterios, à excolha do
freguez: o rigorismo em EXQUESCER e o relativismo em ESQUECER.


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sábado, 15 de novembro de 2014

NOVEMBRO/2014: PINGOS PONCTUAES


Pergunta de Carlos Solano Passos: "Por que você diz que a lettra "I" é
uma das trez vogaes que jamais devem levar accento? Nesse caso, como
differenciar, do verbo CAHIR, a primeira pessoa do preterito e a
terceira do presente?"


Na verdade, melhor seria que nenhuma das seis vogaes levasse accento. No
caso do "I", fica ainda mais absurdo substituir um pingo por um agudo. O
exemplo que você apponcta só crearia duvida na orthographia reformada.
Na forma classica, as respectivas pessoas são graphadas assim: "eu cahi"
e "elle cae", não havendo, portanto, confusão alguma.


Pergunta de Francisco Ribeiro: "Por que você escreve ADDOESCER com "D"
duplo e ADOLESCENTE sem duplicar?"


Porque o latim ADDOLESCERE se compõe de AD+D e ADOLESCERE se compõe de
AD+O. O mesmo occorre com ADDOÇAR [AD+D] e ADOPTAR [AD+O], por exemplo.


Pergunta de Heitor Ferreira: "Não seria uma boa iniciativa crear um
corrector orthographico para algum processador de texto e/ou navegador?"


Sim, seria uma optima iniciativa. Si eu não fosse cego e meu computador
fallante não fosse tão limitado, talvez emprehendesse a tarefa de crear
tal ferramenta. Por emquanto dependo de terceiros para isso e outras
coisas, mas o diccionario eu consigo editar e actualizar sozinho. Segue
uma copia por email. Grato pelo interesse e um abbraço do GLAUCO


Pergunta de Alberto Medeiros da Cunha (que se cognomina "Al Cunha"):
"Glauco, você insiste em exemplificar que escreve HAVER e REHAVER,
HERDEIRO e COHERDEIRO, HYDRATAR e DESHYDRATAR, HOMEM e SUPERHOMEM,
HUMANO e SUBHUMANO. Insiste que, si os phoneticistas fossem convictos e
coherentes, deveriam escrever AVER e REAVER, ERDEIRO e COERDEIRO,
IDRATAR e DESIDRATAR, OMEM e SUPEROMEM, UMANO e SUBUMANO. Agora paresce
que alguns delles estão querendo abolir o 'H' para, digamos,
'simplificar' um tantinho a reforma. O que você acha?"


Sempre achei que esses reformistas não passam dum bando de
bundas-molles. Si tivessem colhão, ja estariam graphando AVER, ERÓI,
INO, ONRA e UMOR ha muito tempo, em logar de HAVER, HEROE, HYMNO, HONRA
e HUMOR, como eu grapho. Ou seja, ja teriam se posicionado em sentido
ainda mais opposto ao meu, o que deixaria as coisas mais claras. No
entanto, continuam cheios de dedos. Problema delles. Para nós,
etymologistas, o que interessa é conciliar a coherencia à tradição
escripta, equiparando, por exemplo, HOJE e HONTEM, ou HIBERNAÇÃO e
HINVERNO. Quem estiver commigo não precisa abolir nada. Precisa é
addicionar mais lettras, no que for possivel.


Pergunta de Geraldo de Castro Filho: "Mesmo antes das reformas ja se
escrevia SANTO em vez de SANCTO. Por que isso?"


Por causa das incoherencias do systema mixto então vigente, lembrando
que não havia lei que regulasse a escripta, só havia a informalidade
costumeira. O proprio Aulete incorria nessas incoherencias, pois
registra SANTIFICAR ao lado de SANCCIONAR, quando o correcto seria
SANCTIFICAR. Esse é um dos casos em que o costume não embasa a regra.
Aqui entra o etymologista para repor as coisas no devido logar: SANCTO,
SANCTIFICAR; SANCÇÃO, SANCCIONAR.


Pergunta de Lucia Alvarenga: "Si a regra tradicional manda usar 'Z' em
vez de 'S' no final de palavras como LUIZ ou SATANAZ, por que você
acceita como excepções nomes do typo JESUS, PARIS ou MOYSÉS?"


Justamente por serem casos especificos, que ja trazem o "S" na origem.
Ainda assim, Julio Nogueira recommenda PARIZ e segue criterio mais
uniforme. O importante é conferir a tradição escripta. Em nenhuma biblia
prequarentista, por exemplo, você acharia a forma JESUZ, mas certamente
SATANAZ está presente em todos os textos theologicos. Portanto, não
caiamos na temptação de forçar a barra, cara Lucia.


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sábado, 20 de setembro de 2014

SEPTEMBRO/2014: ADMANEIRANDO A ADMOSTRAGEM


Antes de abbordar outros themas deste mez, approveito para advisar aos
leitores que, em logar do systema mixto que venho utilizando neste blog,
passo a escrever com maior rigor etymologico, para exemplificar como
ficaria um texto submettido a normas mais inflexiveis, como as que vão
expostas nas notas 10 e 13.9 do meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO. Sei que
isso aggradará a internautas como o Evandro de Albuquerque Queiroz e o
Pedro da Sylva Coelho, mas resalvo que tal criterio foi menos usual
entre os seculos XIX e XX, practicado por abbalizados especialistas como
Ramiz Galvão mas desconsiderado por outros, como Julio Nogueira.


Ora, accontesce que sahiu na revista litteraria PESSOA uma curiosa
materia de Raphael Monte sobre a prequarentista obra humoristica NOVA
MANEYRA DE FALLAR, assignada pelo Barão d'Ascurra, que satyrizava o
accordo orthographico de 1931 entre a Academia Brazileira de Lettras e a
Academia das Sciencias de Lysboa. Aqui não vem ao caso a identidade do
pseudonymo, que se suppõe ser do philologo Saul Borges Carneiro, com um
dedinho do impagavel Barão de Itararé e de outros escriptores. Tambem é
irrelevante emphatizar que o livrinho foi vazado numa escripta mais
quinhentista que novecentista, na qual palavras como "rey" ou "maneyra"
ainda guardavam resquicios medievaes. Quem quizer conferir a materia
pode accessal-a pelo link:


http://www.revistapessoa.com/2014/08/nova-maneyra-de-fallar/


O que nos importa resaltar é que aquelle opusculo retracta com circenses
tinctas a confusão que os lusophonos attravessavam na primeira metade do
seculo passado, até que a dictadura getulista impuzesse deste lado do
Atlantico aquella malfadada reforma phonetica de 1943. Na verdade, o tal
"accordo" de 1931 não foi o unico que fracassou. Varias tentativas
vinham sendo commettidas para "simplificar" a orthographia, todas
condemnadas ao insuccesso, a menos que tyrannicamente officializadas,
como occorreu na decada de 1940.


Ja expuz, à nausea, os argumentos scientificos que desrecommendam a
phonetização da escripta portugueza, como da franceza ou da ingleza, a
despeito dos casos hespanhol e italiano, que teem fundamentação
historica e não politica. Ou, como dizia Fernando Pessoa (elle tambem
adepto da etymologia), orthographia é questão de espirito, não de
estado. Mas o livro do Barão d'Ascurra traz à baila outro angulo do
argumento, que tambem ja utilizei, mas que vale reproduzir nas palavras
do proprio auctor, a quem não aggradava uma orthographia por decreto:


"Exceptuados os amanuenses e typographos, encarregados de copiar e
imprimir os actos officiaes, a quem mais obrigaria uma lei federal que
instituisse normas orthographicas? Aos estudantes e professores dos
cursos superiores e secundarios? E si os professores desses cursos,
considerando na questão orthographica o lado scientifico, enxergassem na
lei um attemptado à liberdade de pensamento?"


Em summa, cabe a nós, etymologistas, um verdadeiro activismo de
resistencia ao auctoritarismo da ABL e dos governos de plantão que
delegam a um punhado de academicos envaidescidos e gananciosos uma
tarefa para a qual ninguem os elegeu, bem como aos parlamentares que se
arvoram como fiscaes do pensamento na sua forma mais intocavel, que é a
escripta. Luctemos, pois, contra essa panellinha dentro da egrejinha!
Abbaixo a dictadura!


A questão formulada por Raony Gonçalves vem a proposito de certas
concessões a formas simplificadas, ainda que o criterio geral seja
etymologico: "Glauco, ja que AJEITAR e ADJECTIVAR são graphemas
parallelos e você admitte que podem ser uniformizados si escrevermos
ADJEITAR, por que não fazermos o mesmo com ENSINAR e ASSIGNAR?"


Caro Raony, é só uma questão de coherencia. Si acceitarmos o systema
mixto que predominou na phase prequarentista, acceitaremos algumas
simplificações, não porque capitulemos aos phoneticistas e reformadores,
mas porque a tradição do idioma ja as crystallizou, como SINA em vez de
SIGNA, TRUNFO em vez de TRUMPHO ou FEIJÃO em vez de PHEIJÃO. Mas si
uniformizarmos aquelles verbos como AFFAMAR e AFFORTUNAR, ABBREVIAR e
ABBRAZILEIRAR, APPROVAR e APPROVEITAR, o mais logico seria seguirmos o
mesmo criterio para ASSIGNAR e ENSIGNAR. Apenas em certos casos seria
recommendavel uma digraphia para effeitos semanticos, como entre os
verbos CATAR e CAPTAR, APPRENDER e APPREHENDER. Assim reduziriamos as
inevitaveis excepções e extenderiamos o padrão etymologico a um maior
universo lexico. Vale a pena insistir, sim, Raony!


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sábado, 6 de setembro de 2014

SEPTEMBRO/2014: A GOZAÇÃO E O GOZADOR

A proposito de outra pertinente questão envolvendo digraphias
interpella-me o internauta Joaquim José dos Santos (que resolveu
assignar-se doravante como Joachim Joseph dos Sanctos por minha causa,
oh, quanta responsabilidade...): "Glauco, ja que você sustenta que
CHYMICA está mais de accordo com o latim e o grego do que CHIMICA, que
tem a dizer da differenciação normalmente feita entre o latim SATIRA e o
grego SATYRO?"


Meu caro Joachim, sua questão é mais que opportuna, pois envolve até meu
proprio sobrenome, Silva (ja que Mattoso é pseudonymo litterario), mas
explico primeiro por que o substantivo commum que designa a gozação em
sentido figurado, ou seja, SATIRA, tem sido escripto sem o "Y" existente
no nome mythologico SATYRO, que designa o gozador no sentido proprio.


Succede que, no alphabeto romano, as lettras "U" e "V" eram
representadas só pelo "V", donde a graphia AVGVSTVS para AUGUSTUS. Ora,
a pronuncia do upsilon grego era semelhante ao "U" francez ou ao "Ü"
allemão, soando como uma fusão de "U" e "I". Dahi a solução latina de
collocar um "V" sobre um "I", creando a lettra que passaria a ser
chamada de ypsilon. Todos os graphemas que passaram do grego ao latim e
à actualidade foram translitterados assim, como CYCLO, DYNAMO, HYDRO,
KYSTO, LYRA, MYTHO, NYMPHA, PSYCHO, RHYTHMO, SYNTHESE ou TYPO. Algumas
formas, porem, permanesceram oscillantes, vacillando entre uma e outra
vogal, como em MURTA e MYRTA. É o caso de SATYRUS que, na accepção
feminina SATYRA, mixturou SATURA e SATIRA para designar a miscellanea
poetica a serviço da mordacidade e da malicia. SATURA tem a ver,
inclusive, com o verbo SATURAR. Evidentemente, o correcto seria
preservar a transcripção SATYRA, com os respectivos cognatos SATYRICO e
SATYRISTA, ao lado de SATYRISMO e SATYRIASE, referentes a SATYRO. Assim
fez Bilac quando, em seu TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO, graphou SATYRA para
alludir à poesia mordazmente critica. Aqui me penitencio por ter dicto
que elle havia commettido um equivoco e ja registrei a resalva no meu
diccionario. O problema é que os maldictos phoneticistas sempre forçam a
barra para nos induzir ao erro, quando affirmam categoricamente,
inclusive em diccionarios de larga credibilidade, que SATYRO nada teria
a ver com SATIRA. Cumpre-nos desmascarar taes manobras, que escamoteiam
a verdade historica a serviço da malfadada simplificação pretendida
pelos reformistas da orthographia. Pau nelles!


Quanto ao sobrenome SILVA, que remette à mesma origem latina donde nos
veiu SELVA, tracta-se de outro caso de transcripção indecisa, pois os
hellenismos XYLO e HYLO, referentes à madeira e, por extensão, às
arvores e às mattas, foram corrompidos para SYLO ou SYLVO, donde os
anthroponymos SYLVIO e SYLVIA. A propria origem florestal do toponymo
TRANSYLVANIA confirma essa matriz. O inglez preservou-a no toponymo
PENNSYLVANIA e no anthroponymo SYLVESTER. Note-se que ella se
differencia da matriz do verbo SILVAR e do substantivo SILVO, que é o
latim SIBILARE. Torna-se obvia a conclusão de que toda a familia, desde
SYLVA até SYLVEIRA, passando por SYLVICOLA e SYLVESTRE, teria que ser
escripta com "Y", o que tractarei de fazer daqui por deante, emquanto
amaldiçoo os lexicographos reformistas que nos sonnegam as formas
tradicionaes.


Por fallar nos lexicographos, duas das fontes mais fidedignas (Houaiss e
Aulete) teem sido, às vezes, inductoras de equivoco quanto à minha
almejada fixação das formas mais complexas em detrimento das mais
simplificadas. Nesse sentido, conto com as vigilantes observações de
pesquisadores como o portuguez Pedro da Silva Coelho, que me aponctou,
entre outros, os interessantes casos de ACCOSTUMAR, APPERCEBER,
SOLLICITAR e SOLLERTE. Nos dois primeiros, Houaiss (2001) indicava
formação vernacula, respectivamente A+COSTUME+AR e A+PERCEBER, emquanto
o OXFORD ENGLISH DICTIONARY mactava a charada, revelando os latinismos
ACCUSTOMARE e APPERCEPTIO, que não foram considerados por Aulete ao
registrar "ACOSTUMAR" e "APERCEBER". Nos outros casos, emquanto Aulete
(1881) registrava "SOLICITO" e "SOLERTE" (no que foi accompanhado pelo
Lello por volta de 1940), o proprio Houaiss revelava os latinismos
SOLLICITUS e SOLLERS/SOLLERTIS. Entretanto, esse mesmo Houaiss registra
a etymologia "LETALIS" para o adjectivo LETHAL, emquanto o OXFORD
indica, mais correctamente, LETHALIS, ja que tem a ver com o grego
LETHES. Por ahi se entende a razão pela qual o trabalho do etymologista
se assemelha a um garimpo que (inversamente ao desserviço dos
phoneticistas) separa o joio do trigo entre formas simplificadas
deschartaveis e formas complexas preferiveis. Grato fico, pois, ao
attento olhar de interlocutores como o Pedro.


Mais uma questão. Agora é o assiduo Evandro de Albuquerque Queiroz quem
volta com opportuna observação: "Glauco, continuo intrigado com aquelles
verbos começados pelo "A" dicto approximativo, typo AFUNDAR ou
AFORTUNAR, pois me parece incoherente escrever AFFUNDIR e AFFAMAR com
geminação e aquelles outros sem geminação."


Ao Evandro só tenho a responder que, em ultima analyse, elle está
coberto de razão. Si fossemos exhaustivamente rigorosos, todos os casos
de "A" prothetico seriam herdeiros do prefixo "AD" latino, mesmo que não
sejam formados originalmente no latim. Assim, não deveria haver
distincção entre verbos mais vernaculos como ABBENÇOAR, ACCREDITAR,
ADDOESCER, AFFORTUNAR, AGGALLINHAR, ALLINHAR, ANNOITESCER, APPRESENTAR
ou ATTIRAR, e verbos mais latinos como ABBREVIAR, ACCLAMAR, ADDENSAR,
AFFLIGIR, AGGREGAR, ALLIAR, APPLAUDIR ou ATTINGIR, lembrando que nos
casos de vernaculismos como ADJUDAR, ADMASSAR, ACQUARTELAR ou ADVIVAR
não occorreria geminação pelas regras etymologicas. Portanto, a
systematica disciplina ja começaria por adverbios typo ABBAIXO, ACCYMA,
ADDENTRO, AFFORA, ADDEANTE, ATTRAZ, etc., ja que o latinismo ACCERCA
[ACCIRCA] teria que compartilhar o paradigma em "AD" com os demais. Para
dar essa opção aos orthographos, estou incluindo taes formas no
DICCIONARIO desde ja, certo, Evandro?


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sábado, 2 de agosto de 2014

AGOSTO/2014: ESKELETOS NO ARMARIO

O internauta Evandro de Albuquerque Queiroz volta com a seguinte
questão: "Glauco, pergunto por que KILO e KALEIDOSCOPIO você escreve só
com 'K' e palavras typo KOSMO ou KALENDA tambem apparecem com 'C' na
antiga orthographia, si tudo que era 'K' no grego virou 'C' no latim."


Bem, Evandro, grego e romano são alphabetos differentes, mas no geral a
regra seria translitterar "K" para "C" e "KH" para "CH", como sempre
fizeram os latinos, mas a praxe classica abriu varias excepções e a
praxe scientifica consagrou outras tantas. No caso de KILO
(originalmente KHILIO), que indica milhar e differe de CHYLO (succo
digestivo), o graphema se consolidou mais por conta de palavras
derivadas, como KILOMETRO e KILOGRAMMA, cujas abbreviações km e kg
continuam vigorando com "K". A rigor, taes palavras deveriam ser
escriptas como CHILIOMETRO e CHILIOGRAMMA (assim como existe
CHILIOGONO), mas a historia ja registrou o antepositivo como KILO. No
caso de KALEIDOSCOPIO a explicação é mais complexa. Occorre que, do
grego para o latim e deste para nós, alguns digrammas vocalicos
synthetizaram-se em vogaes simples, como os diphthongos "AI" de PAIDEUMA
(que deu "E" em PEDEUMA) ou "OI" de OIKO (que deu "E" em ECOLOGIA),
inclusive o "EI" de KALEIDO, que daria "I" em CALIDOSCOPIO. A rigor, a
palavra translitterada ficaria assim, CALIDOSCOPIO, onde o antepositivo
CALIDO se confunde com o latinismo CALIDUS, que significa "quente" e não
"bella forma" como o KALEIDO grego. Para fazer a distincção e manter o
diphthongo "EI", optou-se coherentemente por manter tambem o "K" da
forma original. Em outros casos, a manutenção do "K" se deve apenas à
tradição, como em KLEPTOMANIA, ou então à digraphia, como em CYSTO e
KYSTO. Aqui o "K" é necessario para evitar a utilização do digramma
"QU", que não existe no grego, só no latim. Dahi por que a palavra
SKELETON virou SCELETUS em latim e, para restaurar a pronuncia, voltou a
ser SKELETON no inglez. Em portuguez teria que ser ESKELETO, pois
SCELETO acabaria virando CELETO na graphia reformada. A peor coisa neste
caso foi transformar o vocabulo em "ESQUELETO", que é litteralmente
monstruoso, verdadeira palavra-frankenstein, nem grega, nem latina, nem
vernacula. Si fosse para mixturar as origens, melhor seria usar duma vez
o "K" com maior frequencia, a exemplo de KERATINA, KEROSENE, KOSMO,
KALENDA, KARMA, KERMESSE, KIMONO, e por ahi vae. Aliaz, do grego para o
latim tambem o digramma "KH" passou a "CH", como em CHORUS ou CHARISMA,
o que gerou conflictos prosodicos no portuguez, ja que CHORO tanto
poderia ser canto como pranto, dependendo da funcção do "H" no digramma.
Si desde o latim fosse usado o "K", ficaria facil differenciar KHORO de
CHORO. Isso só não occorreu porque em latim o "C" tinha valor guttural e
não egual ao nosso "S" deante das vogaes "E", "I" e "Y". Agora é
secularmente tarde, ou antes, millennarmente, para mexer nisso e nenhuma
reforma poderia aterrorizar um etymologista mais do que ja nos apavora
esse cadaverico "ESQUELETO"...


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sábado, 19 de julho de 2014

JULHO/2014: ESCHIZOPHRENIAS DA DIGRAPHIA


Questão das mais primordiaes me propõe o leitor Ataulpho Barrozo: "Você
é capaz de esclarecer por que os americanos e inglezes escrevem BRAZIL
com 'Z' e BRASILIA com 'S'? Esta não seria mais uma das incongruencias
daquelle idioma, ao lado de PARALYMPICS e de PAROXYTON? Aproveitando a
pergunta, Glauco, que tal averiguar por que, para elles, AUCTOR é
AUTHOR?"


Bem lembrado, Ataulpho. E sempre é bom lembrar que a lingua ingleza é
das mais conservadoras. Elles nunca mudam um graphema, ainda que outros
idiomas o façam. Elles escrevem BRAZIL como nós mesmos escreviamos até o
seculo XIX e escrevem BRASILIA porque nós mesmos começamos a escrever
assim desde que a cidade foi projectada, ja no seculo XX. Si nós mudamos
de "Z" para "S" no nome do paiz, elles nem tomaram conhecimento. Si nós
mudassemos de "S" para "Z" no nome da capital, elles continuariam a
graphar BRASILIA. Mas o que realmente importa é a razão da nossa graphia
com "Z". Até o seculo XIX a forma usual era BRAZIL e BRAZA, como consta
do diccionario Aulete, cuja edição original é de 1881. Ja no seculo XX
foi se firmando a forma BRASIL ao lado de BRASA, mesmo antes da reforma
phoneticista de 1943. O diccionario Lello registra BRASIL, embora
admitta BRASA ao lado de BRAZA, e o MANUAL ORTHOGRAPHICO de Julio
Nogueira confirma o gentilico BRASILEIRO. Em these, ambas as formas
seriam acceitaveis, mas, tractando-se do nome do paiz, seria de esperar
que houvesse uma graphia official. Si considerarmos a moeda corrente
como documento fidedigno, basta constatar que, nas antigas cedulas, o
paiz se chamava REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL, e estaria
encerrada a questão. Quanto à capital, bastaria recordar que o titulo de
seu principal jornal é CORREIO BRAZILIENSE e que tal nome remonta ao
orgam homonymo do seculo anterior. Assim sendo, um etymologista cioso e
sciente deveria preferir BRAZA, BRAZIL, BRAZILEIRO, BRAZILIA e
BRAZILIENSE, como eu mesmo me inclino a adoptar, a despeito dos
desavisados que acreditam ser a forma com "Z" mero anglicismo.


Quanto ao substantivo commum AUCTOR, que herdamos do latim, os inglezes
tendem à forma AUTHOR mais por questão da pronuncia delles. Pelo mesmo
motivo grapham o nome proprio ARTHUR e não ARCTUR, do latim ARCTURUS,
como deveria ser. Mas ahi ja não é questão da nossa competencia. Ja
temos problemas de sobra com nossas proprias crises de identidade, visto
que somos o paiz do futuro mas nem siquer fomos capazes de nos baptizar
officialmente no passado...


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sábado, 7 de junho de 2014

JUNHO/2014: DILEMMAS DA DIGRAPHIA


Um de meus consulentes, Raony Gonçalves, cobra-me firme posição quanto à
digraphia entre CHIMICA e CHYMO, ja que ambos os graphemas teem a mesma
origem. De facto, o affixo CHYMIO, implicando noção de succo ou liquido,
é o mesmo que enraiza a familia das palavras CHIMICA, ALCHIMIA,
CHIMIOTHERAPIA, BIOCHIMICA, tal como vem crystallizada nos diccionarios,
ao passo que apenas a palavra CHYMO e sua correspondente CHYMIFICAÇÃO,
referentes ao succo digestivo, apparecem com o devido "Y". Mais uma das
incoherencias do systema mixto que perdurou em nosso idioma até a
malfadada reforma phonetica da decada de 1940. O idioma inglez tirou da
recta substituindo o "Y" pelo "E", como em CHEMISTRY ou CHEMICAL,
emquanto o francez acceita o "I", respectivamente, em CHIMIE e CHIMIQUE.
Bastaria observar a matriz latina CHYMICA, mais fiel à origem grega, e
tudo estaria resolvido. Ao etymologista rigoroso resta restaurar o
graphema correcto e unificar toda a familia: CHYMO, CHYMIFICAR, CHYMICA,
ALCHYMIA, etc. Muito opportuna a cobrança do Raony, que passo a
considerar no meu diccionario.


Outra duvida suscitada pelo idioma inglez está no termo PARALYMPICS,
usado para designar os athletas com alguma deficiencia physica nas
olympiadas parallelas à competição official. Nada justifica tal forma em
portuguez, pois o correcto é PAROLYMPIADA e PAROLYMPICO. Até no inglez
está errado, pois tambem para elles o prefixo grego PARA não permanesce
invariavel nas assimilações, donde as formas PARONOMASIA e PAROXYTON
que, no portuguez, existem accentuadas como "PARONOMÁSIA" e "PAROXÍTONO"
na graphia reformada e como PARONOMASIA e PAROXYTONO na etymologica. O
mesmo occorre com PARESTHESIA ou PARELECTRICO, ja que affixos como
ONOMATO e ESTHETO teem preferencia e obrigam o prefixo PARA a perder o
segundo "A", que só se conserva quando o elemento pospositivo ja tem a
mesma inicial, como em PARATHLETA e PARALDEHYDO, ou quando o pospositivo
começa por consoante, como em PARAMILITAR e PARAPHRASE. Portanto, a
traducção correcta é PAROLYMPICO, como em PARONOMASIA, PARONYMO,
PAROXYTONO ou PARODIA. Não ha o que discutir si quizermos manter a norma
vernacula.


Concluindo por aqui, respondo à pergunta de Magdalena Baptista sobre as
formas ARCTICO e ANTARCTICO. Claro que taes palavras nunca deveriam ser
"reformadas" para "ÁRTICO" e "ANTÁRTICO", pois são parentes do affixo
ARCTO, que significa "urso" e differe de ARTO, que significa "pão". Si
dissermos que alguem se alimenta de pão, em latim ficaria PANIVORO e em
grego ARTOPHAGO. Si alguem se alimentasse de carne de urso, seria
ARCTOPHAGO. Logo, é obvio que as regiões ARCTICA e ANTARCTICA teem taes
nomes por causa dos ursos polares, suppostos habitantes de todas as
regiões geladas. Si taes regiões se chamassem "ÁRTICA" e "ANTÁRTICA",
seria por causa da abundancia de pão ou de padeiros por aquellas bandas,
ora, pois, pois!


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sábado, 10 de maio de 2014

MAIO/2014: O REI REINA E REGE COM MAGESTADE

Um attento leitor chamado Geronymo acha que seu nome foi incorrectamente
registrado e que devia ser Jeronymo. Scismado com o emprego do "G" pelo
"J" na antiga orthographia, elle me interpella: "Por que tu graphas
MAGESTADE com 'G' e evitas escrever GEITO, AGEITAR, DESAGEITADO, etc.?
Não são erroneas ambas as formas? O facto de serem taes palavras assim
graphadas por tradição seria sufficiente para as legitimar?"

Excellente questão, que merece exame mais detido. Quando optei pela
forma MAGESTADE, não me respaldei só na tradição. Primeiro considerei o
que commentou Julio Nogueira no MANUAL ORTHOGRAPHICO BRASILEIRO, que
transcrevo entre chaves:

{Em algumas palavras os motivos de confusão entre o "G" e o "J" ja
vieram do latim. Assim que ao lado de MAGIS, MAGISTER encontram-se as
graphias MAJOR, MAJESTAS, palavras corradicaes. Dahi a indecisão
graphica do portuguez: MAGESTADE - MAJESTADE. No latim, onde o "G" era
sempre guttural, a pronuncia orientava a graphia. Em portuguez, porem, o
"G" anterior a "E", "I", "Y" teve o mesmo valor de "J" e, assim,
MAJESTADE - MAGESTADE são representações perfeitas. Como resolver,
então, o problema? A uniformização seria difficilmente acceita.
MAJESTADE, que é a melhor graphia, não seria recusada pelos que escrevem
MAGESTADE; raros, porem, se conformariam com MAJISTRAL. O melhor,
pensamos, será appoiar-se na graphia das palavras correspondentes no
latim, a que cabem as culpas, donde MAJESTADE, MAJESTOSO, ao lado de
MAGICO, MAGISTRADO, MAGISTRAL, MAGISTERIO.}

Ora, adduzo eu, succede que o "J" só se impõe quando corresponde ao "I",
como em MAIOR, MAIORIDADE, MAJOR, MAJORITARIO. Fora disso, julgo que o
"G" se colloca mais de accordo com a maioria dos cognatos, como em
MAGESTADE, MAGISTRADO, alem de respeitar o costume arraigado em
portuguez, sem fallar que o "G" se recommenda em situações analogas,
como LAGE ou PAGEM. Adopto, pois, MAGESTADE, a despeito do inglez
MAJESTY ou do francez MAJESTÉ.

Quanto ao "G" em GEITO, creio que fica desajeitado, pois todos os
cognatos são com "J", como JACTO, JACTANCIA, DEJECTO, INJECTAVEL,
PROJECTO ou SUJEITO. Dahi minha opção pela forma JEITO, a despeito da
tradição vernacula.

Essa margem de duvida serve, entretanto, para evidenciar que a matriz
latina nem sempre é absoluta na formação da matriz vernacula
conservadora. Por exemplo, HOJE viria de HOC DIE, emquanto HONTEM viria
de AD NOCTEM. A rigor, deveria ser HOJE e "ANNOITE", mas, ja que a forma
actual perdeu o prefixo "AD", manda a tradição que HONTEM siga HOJE por
analogia, como occorre com AFFIM, AFFINIDADE e AFFINAL. Qualquer
proposta que elimine o "H" deve ser entendida como manobra reformista e
repudiada pelos etymologistas convictos.

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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sábado, 5 de abril de 2014

FALLE COMNOSCO ARROBA CORRECTOR ORTHOGRAPHICO [ABRIL/2014]

Questões enviadas a mattosog@gmail.com por Pedro da Silva Coelho, de
Portugal:


(1) Pedro considera, apoiado (ou APPOIADO, como elle sustenta) em boa
fundamentação, que o prefixo latino "AD" seja preservado em verbos como
ADNEXAR, ADNOTAR ou ADNUMERAR, bem como nos substantivos ADJUDA e
ADQUISIÇÃO.


(2) Pedro aponcta no substantivo MODELLO um duplo "L" existente no latim
vulgar MODELLUM, cujo equivalente italiano manteve a geminação, e indaga
por que graphei "MODELO".


(3) Pedro indaga por que não grapho AMAL-O-HEI ou COMEL-O-HIA e sim
AMAL-O-EI e COMEL-O-IA nas conjugações mesocliticas, ja que o "H" não
deveria cahir do verbo HAVER implicito nas mesoclises.


Respondo nestes termos:


O prefixo "AD" soffre assimilação deante de pospositivos iniciados pela
consoante "N", como em ANNEXAR e ANNOTAR. Pelas normas do proprio latim,
a assimilação não occorre deante das consoantes "M" ou "J", por exemplo.
Dahi a razão para não existirem os verbos "AMMIRAR" ou "AMMINISTRAR" e
sim ADMIRAR e ADMINISTRAR. No caso da lettra "J", seriam acceitaveis as
formas ADJUDA e ADJUDANTE (ja que existe ADJUTORIO) ou ADJUNCTAR (ja que
existe ADJUNCTO), ao lado de AJUDA e AJUNCTAR. Quanto às formas
ADNUMERAR e ADQUISIÇÃO, são casos à parte. Como não tem uso o verbo
ANNUMERAR (que na graphia phonetica viraria "ANUMERAR"), prevalesce o
"D", inclusive na pronuncia. E como não existe geminação do "Q" que
permitta a forma "AQQUISIÇÃO", convencionou-se que o digramma "CQ"
substitue a geminação. Assim, do verbo ADQUIRIR (cujo "D" se pronuncia)
vem o deverbal ACQUISIÇÃO.


Quanto ao verbo APPOIAR e ao deverbal APPOIO, a assimilação é acceitavel
por resultar do encontro AD+PODIUM, que deu APPODIARE. Conforme a
tabella do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO, AD+P = APP.


Algumas palavras terminadas em ELLO ou ELLA nos veem do italiano, como
POLICHINELLO e SENTINELLA, sem necessidade da authenticação latina. Mas,
quando a matriz latina, embora vulgar, ja registra o duplo "L", nada
resta a questionar. Assim como PELLO, PULLO ou PASTELLARIA, de PILLUS,
PULLARE e PASTELLUM, respectivamente, sem duvida acceito MODELLO, de
MODELLUM. Si graphei com um só "L", foi cochilo.


Quanto ao desapparecimento do "H" nas mesoclises, transcrevo trecho do
MANUAL ORTHOGRAPHICO BRASILEIRO de Julio Nogueira, com quem concordo
neste poncto:


{Nas formas do futuro: AMAREI, CANTAREI, DEVEREI, SENTIREI, POREI,
FAREI, DIREI, TRAREI, etc., é o verbo HAVER agglutinado, nas suas
linguagens contractas, despido do "H" etymologico, como em outras
linguas romanicas. Escrevendo-se AMAREI, AMARIA, não deve haver
escrupulos em escrever-se: AMAL-O-EI, AMAL-O-IA, AMAL-O-EMOS,
AMAL-O-IAMOS, etc. Ninguem escreve AMARHEI, AMARHIA mas alguns apegam-se
ao "H" nos casos de tmese: AMAL-O-HEI, DIL-O-HIA, etc., graphias pouco
coherentes e que tendem a desapparecer espontaneamente.}


Questão enviada a mattosog@gmail.com por Moysés Greenbaum, que usa o
appellido de Berimbaum:


"Diga-me, Glauco, você não acha incoherente que pela orthographia
official se escreva EXCEÇÃO ao lado de EXCEPCIONAL? Como se explica
isso?"


Respondo nestes termos:


Sim, Berimbaum, essa é uma das innumeras incoherencias decorrentes das
reformas phoneticistas. Allegando que a lettra "P" não se pronuncia nas
palavras "EXCEÇÃO" e "EXCETO", grapham EXCEPCIONAL, mas manteem o "P"
nos cognatos CONCEPÇÃO, DECEPÇÃO, PERCEPÇÃO e RECEPÇÃO. O peor é que em
Portugal ja se grapha "RECEÇÃO", que na prosodia se confunde com
RECESSÃO! Daqui a pouco vão querer graphar, por aqui tambem, "CONCEÇÃO"
e "DECEÇÃO", o que me deixaria decepcionado. Mas para nós,
etymologistas, tal concepção não tem cabimento e não faremos tal
concessão, não é mesmo?


Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.


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sábado, 8 de março de 2014

FALLE COMNOSCO ARROBA CORRECTOR ORTHOGRAPHICO [MARÇO/2014]


Trez questões enviadas a mattosog@gmail.com por Yuri Barros Silva, um
dos twitteiros que adheriram ao systema etymologico:


(1) Yuri indaga por que adopto a terminação "ÉA", si ella é responsavel
pela collocação de mais um accento, e si não seria melhor graphar como
se grapha hoje, inclusive pelo novo "aborto orthographico", sem accento,
sendo assim PLEBEIA, IDEIA e PHILISTEIA.


(2) Qual a explicação para a graphia de LAMPEÃO, com "E"? Seria uma mera
escolha feita por conta da digraphia existente (assim como em VIADO e
VEADO, onde a segunda tem a preferencia) ou existe um etymo latino que
justifica isso? Em francez se diz LAMPION, com "I".


(3) Yuri me chama a attenção para o facto de que a palavra BOLLA deveria
ser escripta assim, com "L" duplo, ja que vem do latim BULLA e seu uso
nesta forma está respaldado em classicos da lingua, como Camillo
Castello Branco.


Respondi nestes termos:


No caso de LAMPEÃO, é mais devido à tradição da lingua que à etymologia,
não importando o equivalente francez. Affinal, graphamos CAMPEÃO e LEÃO,
emquanto os francezes escrevem CHAMPION e LION. Ademais, outros casos
teem preferencia com "E", como CREAR ou VEADO.


Ja a terminação "ÉA" eu respeito por força duma tradição arraigada,
embora lamente o accento. Não posso abrir mão della porque, si
admittisse a forma "EIA", estaria acceitando que ALDEIA se pronuncia
como "IDEIA", o que só é verdade em Portugal mas não aqui, onde uma tem
vogal aberta e outra fechada. Em nome da differenciação, acceito o
accento e mantenho IDÉA ao lado de ALDEIA.


Quanto ao substantivo BOLLA, o facto de ja existir BULLA em portuguez,
com significado mais especifico, não impede que o rigor etymologico se
applique tambem à forma com vogal "O" em logar de "U". Si de BUCCA vem
BOCCA, alem do adjectivo BUCCAL, de BULLA viria BOLLA, logicamente. Yuri
lembrou bem e fico grato a collaboradores como elle. Convem lembrar que
BOLLO tem provavel origem em BOLLA e documentos da lingua o attestam.
Temos de ficar attentos, portanto, aos derivados de BOLLA e BOLLO:
BOLLÃO, BOLLAR, EMBOLLAR, REBOLLAR, EMBOLLADA, REBOLLADO, etc.


Questão enviada a mattosog@gmail.com por Jurema Di Giorgio, professora
de portuguez na rede publica e adepta da etymographia:


"Meus alumnos ja me perguntaram por que os reformadores não aproveitaram
o ultimo accordo orthographico para abolir o 'H' de HUMANO e HONRA, ja
que foi abolido de DESHUMANO e DESHONRA. Na lingua italiana, que tem
orthographia phonetica, o 'H' desappareceu de UMANO e ONORE."


Respondi nestes termos:


Isso só corrobora a incoherencia e a inefficiencia dessas reformas
pretensamente phoneticas no portuguez. O italiano tem tradição
simplificadora desde a origem; o portuguez, não. Qualquer tentativa de
reforma orthographica no nosso idioma tende a sahir meia bocca. Ja que é
assim, insisto, para que mexer no que estava quieto? Melhor manter
HUMANO e DESHUMANO, SCIENCIA e CONSCIENCIA, HONTEM e ANTEHONTEM, SCENA e
ENSCENAÇÃO, como escreviamos até 1943.


Questão enviada a mattosog@gmail.com por Paulo de Almeida Junior,
jornalista e blogueiro:


"Si RIMA e RHYTHMO teem a mesma origem, por que não adoptar a forma
RHYTHMA? Sei que você vae dizer que quer evitar confusão entre os verbos
RIMAR e RHYTHMAR, mas daria para adoptar uma parcial forma etymologica,
que seria RHYMA, não daria? Em inglez deu..."


Respondi nestes termos:


Sim, Paulo, até accrescentei RHYMA e RHYMAR às formas simplificadas no
meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO, a despeito da forma franceza RIME. Neste
caso occorre um dilemma, pois, si de um lado repudiamos as
simplificações radicaes, de outro tenho reservas quanto a formas
intermediarias entre a etymologia e a phonetica, taes como THISICA em
logar de PHTHISICA (para se approximar de "TÍSICA") ou DITHONGO em logar
de DIPHTHONGO (para se approximar de "DITONGO"), mas inclino-me a dar
razão à sua these.


Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.


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sábado, 8 de fevereiro de 2014

FEVEREIRO/2014: A GERMINAÇÃO DA GEMINAÇÃO

Fico enthusiasmado quando ganho mais um adepto da graphia classica que
practico. Agora é o euphonico Evandro de Albuquerque Queiroz quem me
consulta sobre um dos principaes "mysterios" do systema. Pergunta elle:


"Por que usamos duplo 'P' em APPRECIAR e APPROVAR mas não usamos em
APRESENTAR e APROMPTAR? Como differenciar cada caso, si é que existe um
methodo efficaz?"


A pergunta procede, pois, como observa o Evandro, todos esses verbos
teem matriz latina, correspondendo respectivamente aos cognatos de
PREÇO, PROVA, PRESENTE e PROMPTO.


Em principio, cabe dizer que a origem do "P" geminado está no prefixo
"AD" que, assimilado pelo "P" inicial do vocabulo pospositivo, resulta
na transformação do "D" em "P", ou seja, de AD+PRECIAR vem APPRECIAR e
de AD+PROVAR vem APPROVAR. Ja no caso de PRESENTE e PROMPTO, não seria o
prefixo "AD" e sim um "A" prothetico o elemento prepositivo na
composição dos verbos APRESENTAR e APROMPTAR, uma vez que taes vocabulos
não existiriam no latim e teriam sido formados ja no portuguez. Em
these, a explicação é esta, mas o mais aconselhavel é analysar caso a
caso.


Posso dar uma pista, mas não um "methodo", para indicar quando a
consoante seguinte ao "A" inicial será dupla. Sabemos que o verbo
ACCEDER (de AD+CEDER) leva "C" geminado porque o verbo matricial CEDER
forma cognatos com outros prefixos, algum dos quaes tambem pode resultar
em geminação, como CONCEDER, EXCEDER, PROCEDER e SUCCEDER (de
SUB+CEDER), mas nem sempre tal occorrencia é sufficiente para assegurar
uma duplicidade. No caso de APPRECIAR, não temos palavras como
COMPRECIAR ou EXPRECIAR, nem, principalmente, OPPRECIAR ou SUPPRECIAR,
para corroborar a geminação. O mesmo vale para APPROVAR quanto aos
inexistentes cognatos OPPROVAR e SUPPROVAR, embora nada impeça que taes
verbos sejam creados à guisa de neologismos, ja que estariam em
conformidade com os principios da composição vernacula.


Assim, resta mesmo conferir a etymologia de APPRECIAR no latim
APPRETIARE e de APPROVAR no latim APPROBARE. Mais practico seria guardar
uma lista dos verbos formados com "A" prothetico para facilitar a
consulta, emquanto não memorizamos os casos de prefixo "AD". Abaixo
offereço as duas listas basicas, lembrando que no DICCIONARIO
ORTHOGRAPHICO forneço uma tabella de prefixos sujeitos ou não a
geminação. Quem quizer uma copia do DICCIONARIO basta enviar o pedido a
mattosog@gmail.com e terei prazer em attender à sollicitação. Até a
proxima!



LISTA I - VERBOS PROTHETICOS


ABACELLAR [A+BACELLA+AR]
ABAFAR [A+BAFO+AR]
ABAHIANAR [A+BAHIANO+AR]
ABAHULAR [A+BAHU/BAHUL+AR]
ABAINHAR [A+BAINHA+AR]
ABAIXAR [A+BAIXO+AR]
ABALANÇAR(-SE) [A+BALANÇA+AR]
ABALAR [forma historica ABALLAR, latim AD+VALLARE]
ABALROAR [A+BALROAR]
ABANAR [latim EVANNARE]
ABANCAR(-SE) [A+BANCO+AR]
ABARBELLAR [A+BARBELLA+AR]
ABARCAR [mas latim ABBRACHICARE]
ABARROTAR [A+BARROTE+AR]
ABASTAR [A+BASTO+AR; latim BASTARE]
ABASTARDAR [A+BASTARDO+AR]
ABASTECER [A+BASTECER]
ABEIRAR [A+BEIRA+AR]
ABENÇOAR [A+BENÇAM+AR]
ABERRAR [latim ABERRARE]
ABESPINHAR(-SE) [A+BESPINHA/VESPINHA+AR]
ABISCOITAR [A+BISCOITO+AR]
ABLAMELLAR [AB+LAMELLA+AR]
ABOCCANHAR [A+BOCCANHA+AR]
ABOLIR [latim ABOLERE]
ABOMINAR [latim ABOMINARE]
ABONAR [A+BON+AR, latim BONUS]
ABORDAR [A+BORDO+AR, francez ABORDER]
ABORDOAR(-SE) [A+BORDÃO+AR]
ABORTAR [latim ABORTUS]
ABRANDAR [A+BRANDO+AR]
ABRUTALHAR [A+BRUTO+ALHAR, mas OBBRUTESCER]
ABUNDAR [latim ABUNDARE]
ABURGUEZAR [A+BURGUEZ+AR]
ACABAR [A+CABO+AR]
ACALENTAR [latim CALENS]
ACALMAR [A+CALMA+AR, mas ACCLAMAR]
ACALORAR [A+CALOR+AR]
ACAMAR [A+CAMA+AR]
ACAMPAR [A+CAMPO+AR]
ACANHAR [A+CANHO+AR]
ACANNAVEAR [A+CANNAVE+AR, de CANNABIS]
ACANTHONAR [A+CANTHÃO+AR, latim CANTHUS]
ACAREAR [A+CARA+EAR]
ACARICIAR [A+CARICIA+AR]
ACARINHAR [A+CARINHO+AR]
ACARRETAR [A+CARRETA+AR]
ACATASOLAR [A+CATASOL+AR]
ACAUTELAR [A+CAUTELA+AR]
ACAVALLAR [A+CAVALLO+AR]
ACELLEIRAR [A+CELLEIRO+AR; mas ACCELERAR]
ACERTAR [A+CERTO+AR]
ACHICARAR [A+CHICARA+AR]
ACLARAR [A+CLARO+AR]
ACOBERTAR [A+COBERTA+AR]
ACOCORAR [A+COCORA+AR]
ACOLCHOAR [A+COLCHÃO+AR]
ACOMMUNAR(-SE) [A+COMMUM+AR]
ACONDICIONAR [A+CONDIÇÃO+AR]
ACONSELHAR [A+CONSELHO+AR]
ACONTECER [latim CONTINGESCERE, mas OCCORRER, SUCCEDER]
ACORRENTAR [A+CORRENTE+AR, mas ACCORRER]
ACOSTUMAR [A+COSTUME+AR, mas inglez ACCUSTOM]
ACOTHURNAR [A+COTHURNO+AR]
ACOTOVELLAR [A+COTOVELLO+AR]
ACOVARDAR [A+COVARDE+AR]
ACREDITAR [A+CREDITO+AR]
ACRISOLAR [A+CRISOL+AR]
ACUDIR [latim RECUTERE, mas ACCUSAR, SOCCORRER]
ADEANTAR [ADEANTE+AR]
ADELGAÇAR [A+DELGAÇAR]
ADENTRAR [A+DENTRO+AR]
ADEXTRAR [A+DEXTRO+AR]
ADIAR [A+DIA+AR]
ADOÇAR [A+DOCE+AR]
ADOENTAR [A+DOENTE+AR, mas ADDOECER]
ADOIDAR [A+DOIDO+AR]
ADORMENTAR [A+DORMENTE+AR, mas ADDORMECER]
AFADIGAR [A+FADIGA+AR]
AFEAR [A+FEO/FEIO+AR]
AFEIÇOAR [A+FEIÇÃO+AR, mas AFFEIÇOAR, de AFFEIÇÃO]
AFERROLHAR [A+FERROLHO+AR]
AFIANÇAR [A+FIANÇA+AR]
AFINAR [A+FINO+AR]
AFIVELLAR [A+FIVELLA+AR]
AFOGUEAR [A+FOGO+EAR, mas AFFOGAR]
AFORAR [A+FORO+AR]
AFORMOSEAR [A+FORMOSO+EAR]
AFORTUNAR [A+FORTUNA+AR]
AFRANCEZAR [A+FRANCEZ+AR]
AFREGUEZAR [A+FREGUEZ+AR]
AFROUXAR [A+FROUXO+AR]
AFUGENTAR [A+FUGA+ENTAR]
AFUNDAR [A+FUNDO+AR, mas AFFUNDIR]
AFUNILAR [A+FUNIL+AR]
AGALLEGAR [A+GALLEGO+AR]
AGALLINHAR(-SE) [A+GALLINHA+AR]
AGALOAR [A+GALÃO+AR]
AGARRAR [A+GARRA+AR]
AGATTANHAR [A+GATTO/GADANHO+AR]
AGIGANTAR [A+GIGANTE+AR]
AGRACIAR [A+GRAÇA+IAR]
AGREMIAR [A+GREMIO+AR]
AGRUPAR [A+GRUPO+AR, mas italiano GRUPPO]
ALAGAR [A+LAGO+AR]
ALARGAR [A+LARGO+AR]
ALASTRAR [A+LASTRAR]
ALETHARGAR [A+LETHARGO+AR]
ALEVANTAR [A+LEVANTAR, mas forma historica ALLEVANTAR]
ALINHAR [A+LINHA+AR, mas ALLIAR]
ALINHAVAR [ALINHAVO+AR]
ALISAR [A+LISO+AR]
ALISTAR [A+LISTA+AR]
ALOJAR [A+LOJA+AR]
ALONGAR [A+LONGO+AR]
ALOURAR [A+LOURO+AR]
ALUGAR [mas latim ALLOCARE]
ANINHAR [A+NINHO+AR]
ANOITECER [A+NOITE+ECER]
ANOJAR [A+NOJO+AR]
APADRINHAR [A+PADRINHO+AR]
APAGAR [latim PACARE]
APAIXONAR [A+PAIXÃO+AR, mas italiano APPASSIONARE]
APALPAR [A+PALPO+AR]
APANHAR [hespanhol APAÑAR, mas latim APPANNIARE]
APANIGUAR [latim PANIFICARE]
APARENTAR(-SE) [A+PARENTE+AR, mas APPARENTAR]
APARTAR [A+PARTE+AR]
APARTEAR [APARTE+EAR]
APATETAR [A+PATETA+AR]
APAVORAR [A+PAVOR+AR]
APAZIGUAR [latim PACIFICARE]
APEDREJAR [A+PEDRA+EJAR]
APEGAR [A+PEGAR]
APERCEBER (-SE) [A+PERCEBER]
APERFEIÇOAR [A+PERFEIÇÃO+AR]
APERTAR [mas latim APPECTORARE]
APINHAR [A+PINHA+AR]
APODERAR(-SE) [A+PODER+AR]
APODRECER [A+PODRE+ECER]
APONCTAR [A+PONCTA+AR]
APORRINHAR [A+PORRA+INHAR]
APORTAR [A+PORTO+AR, mas APPORTAR, de APPORTE]
APORTUGUEZAR [A+PORTUGUEZ+AR]
APOSSAR(-SE) [A+POSSE+AR]
APOSTAR [latim POSITA]
APRAZAR [A+PRAZO+AR]
APRAZER [A+PRAZER]
APREGOAR [A+PREGÃO+AR]
APRESENTAR [A+PRESENTE+AR]
APRESSAR [A+PRESSA+AR]
APRIMORAR [A+PRIMOR+AR]
APRISIONAR [A+PRISÃO+AR]
APROFUNDAR [A+PROFUNDO+AR]
APROMPTAR [A+PROMPTO+AR]
APROVEITAR [A+PROVEITO+AR]
APRUMAR [A+PRUMO+AR]
APUNHALAR [A+PUNHAL+AR]
APURAR [A+PURO+AR]
ATALHAR [A+TALHO+AR]
ATAPETAR [A+TAPETE+AR] [latim TAPETUM]
ATAREFAR [A+TAREFA+AR]
ATEAR [A+TEIA+AR]
ATERRAR (aterro e terror) [A+TERRA+AR e latim TERRERE]
ATERRORIZAR [A+TERROR+IZAR, latim TERRORE]
ATINAR [A+TINO+AR]
ATIRAR [A+TIRO+AR]
ATOCHAR [ATOCHA+AR]
ATOLAR [ATOL+AR]
ATORMENTAR [A+TORMENTO+AR, latim TORMENTUM]
ATRACAR [mas italiano ATTRACARE]
ATRAPALHAR [hespanhol TRAPALA]
ATRAVESSAR [latim AD+TRANSVERSARE, mas ATRAVEZ]
ATRAZAR [ATRAZ+AR]
ATRELLAR [A+TRELLA+AR]
ATROAR [A+TROM+AR]
ATROPELAR [A+TROPEL+AR]
ATULHAR [A+TULHA+AR]
ATURAR [latim OBTURARE]
ATURDIR [hespanhol idem, mas ATTONITO]



LISTA II - VERBOS GEMINADOS


ABBATTER [latim ABBATTUERE]
ABBRAÇAR [latim ABBRACCHIARE]
ABBREVIAR [latim ABBREVIARE]
ACCAPTAR [latim ACCAPTARE, como DESACCAPTAR]
ACCEDER [latim ACCEDERE]
ACCEITAR [latim ACCEPTARE]
ACCELERAR [latim ACCELERARE]
ACCENAR [latim ACCINARE, mas ENSCENAR]
ACCENDER [latim ACCENDERE]
ACCENTUAR [latim ACCENTUARE]
ACCIDENTAR [ACCIDENTE+AR]
ACCLAMAR [latim ACCLAMARE, mas ACALMAR]
ACCLIMATAR [francez ACCLIMATER, italiano ACCLIMATARE]
ACCOLHER [latim ACCOLLIGERE]
ACCOMMETTER [forma historica]
ACCOMMODAR [latim ACCOMMODARE]
ACCOMPANHAR [latim ACCOMPANIARE]
ACCORDAR [latim ACCORDARE]
ACCORRER [latim ACCURRERE, mas ACORRENTAR]
ACCOSSAR [latim ACCURSARE]
ACCOSTAR [latim ACCOSTARE]
ACCRESCENTAR [latim ACCRESCENTARE]
ACCRESCER [latim ACCRESCERE]
ACCULTURAR [inglez ACCULTURATION]
ACCUMULAR [latim ACCUMULARE]
ACCURAR [latim ACCURARE]
ACCUSAR [latim ACCUSARE]
ADDENSAR [latim ADDENSARE]
ADDEREÇAR [latim AD+DIRECTIARE, de DIRECTUS ou ADDITIARE, de DIRECTIUS]
ADDICIONAR [latim ADDITIONARE]
ADDITAR [latim ADDITUS]
ADDOECER ou ADDOESCER [latim ADDOLESCERE, mas ADOLESCERE, donde ADOLESCENTE]
ADDORMECER ou ADDORMESCER [latim ADDORMISCERE]
ADDUZIR [latim ADDUCERE]
AFFAGAR [forma historica]
AFFAMAR [forma historica, como DIFFAMAR]
AFFANAR [latim AFFANARE]
AFFAZER [como AFFEITO/AFFECTO, francez AFFAIRE]
AFFECTAR [latim AFFECTARE]
AFFEIÇOAR [de AFFEIÇÃO, mas AFEIÇOAR, de FEIÇÃO]
AFFERIR [latim AFFERERE]
AFFIAR [latim AFFILARE, de FILUM]
AFFIGURAR(-SE) [latim AFFIGURARE]
AFFILAR [latim AFFILARE, de FILUM]
AFFILIAR [forma historica, mas AFILHADO]
AFFIRMAR [latim AFFIRMARE]
AFFIXAR [AFFIXO+AR, forma historica]
AFFLAR [latim AFFLARE]
AFFLIGIR [latim AFFLIGERE]
AFFLUIR [latim AFFLUERE]
AFFOGAR [latim AFFOCARE, como SUFFOCAR]
AFFRONTAR [forma historica]
AFFUNDIR [latim AFFUNDERE, mas AFUNDAR]
AGGLOMERAR [latim AGGLOMERARE]
AGGLUTINAR [latim AGGLUTINARE]
AGGRAVAR [latim AGGRAVARE]
AGGREDIR [latim AGGREDERE]
AGGREGAR [latim AGGREGARE]
ALLEGAR [latim ALLEGARE]
ALLIAR [latim ALLIGARE]
ALLICIAR [latim ALLICERE]
ALLITTERAR [forma historica, latim LITTERA]
ALLIVIAR [latim ALLIVIARE]
ALLUDIR [latim ALLUDERE]
ALLUMIAR [latim ALLUMINARE]
ANNEXAR [ANNEXO+AR]
ANNIQUILAR ou ANNIHILAR [latim ANNIHILARE]
ANNOTAR [latim ANNOTARE]
ANNUIR [latim ANNUERE]
ANNULLAR [latim ANNULLARE]
ANNUNCIAR [latim ANNUNTIARE]
ANNUVEAR ou ANNUVIAR [latim ANNUBILARE]
APPARAR [latim APPARARE]
APPARECER [latim APPARERE/APPARESCERE]
APPARELHAR [APPARELHO+AR, forma historica]
APPARENTAR [de APPARENTE, mas APARENTAR, de PARENTE]
APPELLAR [latim APPELLARE]
APPENSAR [APPENSO+AR]
APPETECER [latim APPETESCERE]
APPLACAR [forma historica]
APPLANAR [latim APPLANARE]
APPLAUDIR [latim APPLAUDERE]
APPLICAR [latim APPLICARE]
APPOR [latim APPONERE]
APPORTAR [de APPORTE, mas APORTAR, de PORTO]
APPOSTAR [forma historica, de POSTO, mas APOSTAR, de APOSTA]
APPRECIAR [latim APPRETIARE]
APPREHENDER [latim APPREHENDERE]
APPREMER [latim APPRIMERE]
APPRENDER [latim APPRENDERE/APPREHENDERE]
APPROPINQUAR [latim APPROPINQUARE]
APPROPRIAR [latim APPROPRIARE]
APPROVAR [latim APPROBARE]
APPROXIMAR [latim APPROXIMARE]
ATTACCAR [como TACCO; italiano ATTACCARE, inglez ATTACK]
ATTEMPTAR [de ATTEMPTADO, latim ATTEMPTARE, mas ATTENTAR]
ATTENDER [latim ATTENDERE]
ATTENTAR [de ATTENÇÃO, latim ATTENTARE, mas ATTEMPTAR]
ATTENUAR [latim ATTENUARE]
ATTESTAR [latim ATTESTARE]
ATTIÇAR [latim ATTITIARE]
ATTINGIR [latim ATTINGERE]
ATTRAHIR [latim ATTRAHERE]
ATTREVER(-SE) [latim ATTRIBUERE]
ATTRIBUIR [latim ATTRIBUERE]
ATTRITAR [ATTRITO+AR, latim ATTRITUS]


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sábado, 11 de janeiro de 2014

JANEIRO/2014: LUCTANDO JUNCTO COM ATTENTOS PRACTICANTES

Tenho dicto que, como todo etymologista que se preza, jamais perco uma
opportunidade de escrever qualquer palavra com lettras duplas, "Y" ou
"PH", sempre que a matriz grecolatina ou a praxe historica me deem
respaldo, a despeito das formas simplificadas que, quer na fonte
hellenica, quer na romana, coexistam com formas mais complexas mas gozem
da preferencia dos lexicographos e tractadistas.


Assim, mesmo que a partir do latim possamos registrar QUINTO ao lado de
QUINCTO e JUPITER ao lado de JUPPITER ou, a partir do grego, CHRYSALIDA
parallelamente a CHRYSALLIDA e NANISMO parallelamente a NANNISMO, meu
criterio se pauta pela adopção dos digrammas "CT", "PP", "LL" e "NN",
respectivamente.


Succede que, inadvertidamente, até os mais attentos dentre nós correm o
risco de perder uma opportunidade dessas. Digo "nós" porque ja não me
sinto tão "unico" quanto alguns me consideram. Segundo Yuri Barros
Silva, um dos consulentes do meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO, até nas
redes sociaes (como o twitter) ja existe uma collectividade de cultores
do systema etymographico, a qual, embora composta de adeptos que não
totalizem os dedos das duas mãos, vem crescendo a poncto de ultrapassar,
em breve, tambem os dedos dos pés.


E foi justamente por um desses adeptos que acabei advertido accerca duma
opportunidade que eu vinha perdendo. Graças à observação de Pedro da
Silva Coelho, verifiquei que o verbo SOLLICITAR e o substantivo
SOLLICITUDE (com os respectivos cognatos) se enquadram na categoria dos
vocabulos cuja forma complexa (com "L" geminado) fora preterida por
quasi todas as fontes que habitualmente consulto, como os diccionarios
AULETE e LELLO, alem do MANUAL ORTHOGRAPHICO BRASILEIRO de Julio
Nogueira, fontes essas devidamente annotadas na bibliographia do
DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO. Apenas o HOUAISS consigna a matriz correcta.


Feita a rectificação e declarada a minha gratidão ao Pedro, aproveito
para renovar meu offerecimento do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO a todos que
o sollicitarem (agora sim) por email a mattosog@gmail.com


Agora que, mais confiante, tenho tantos collegas de lucta, posso
appellar com emphase: Ao attaque! Combattamos pela penna!


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