sábado, 15 de junho de 2013

JUNHO/2013: "TU SONETAS, VÓS SONETAES"

Ja expliquei e exemplifiquei que, na reforma orthographica de 1943, os
phoneticistas estavam tão obcecados em abolir o "PH" e as consoantes
geminadas quanto em introduzir accentos que não existiam na escripta e
só tonificavam as palavras na falla. Assim, o adverbio
"philosophicamente" perdeu dois "PH" e passou a levar accento grave na
subtonica, escripto como "filosòficamente", porque o adjectivo
"philosophico" passara a levar agudo na tonica, graphado como
"filosófico". Ja o substantivo "appello", que perdera um "P" e um "L",
ganhou, por outro lado, um circumflexo, reformado como "apêlo".

Ou seja, os academicos que bolaram uma reforma pretensamente
"simplificadora" deram um tiro no proprio pé e trocaram seis por meia
duzia. Tudo que se "economizou" em "PH" que virou "F" e em lettras
duplas que viraram unas (ou nuas) se gastou accentuando palavras que
jamais tinham precisado de accento. A intenção declarada era "facilitar"
o apprendizado, mas a segunda e principal intenção era vender
diccionarios e livros didacticos, ninguem ignora.

O resultado dessa plethora de signaes foi que, desde então, todo mundo
teve que escrever o pronome "êste" com circumflexo para não confundirmos
com o substantivo "este" (poncto cardeal), ou a preposição "sôbre" para
não confundirmos com "sobre" (verbo "sobrar"), ou o verbo "colhêr" para
não confundirmos com o substantivo "colher". Ja pensaram? Si eu quizesse
que alguem se "fôda", teria de accentuar, sinão seria "foda"! Que foda,
hem? Que se foda, diriamos hoje...

Isso reflecte a mania que o brasileiro tem, quando está no poder, de
querer regulamentar tudo, quando, na practica, não limpa direito nem o
proprio cu. Ja naquella epocha as auctoridades não conseguiam reprimir a
criminalidade e a corrupção, mas insistiam em patrulhar o comportamento
dos que ja estavam enquadrados como cidadãos cumpridores de seus
deveres. Não por acaso estavamos numa dictadura...

Tambem estavamos numa dictadura quando, em 1971, os academicos
perceberam que, sendo tantos accentos desnecessarios e complicadores,
poderiam lucrar de novo si bolassem nova reforma que os abolisse. Assim,
bastou mais um decreto para officializar que, dalli em deante,
"filosòficamente" perderia o accento grave e "apêlo" o circumflexo. Mas
o substantivo "idéia" continuaria a levar agudo, para que não fosse
pronunciado como "aldeia". Tambem "lingüiça" e "tranqüilo" continuariam
a levar trema, para que não fossem pronunciados como "preguiça" ou
"aquilo". Mas não perderiamos por esperar, né?

Tudo não passava de auctoritarismo, de casuismo e de opportunismo, pois,
antes de 1943, todos sabiam que "philosophicamente", "appello",
"linguiça", "preguiça", "tranquillo" e "aquillo" dispensavam quaesquer
accentos e que "idéa" levava agudo mas não tinha "I" antes do "A".

De minha parte, nunca acceitei que "sonêto" levasse tal accento para não
se confundir com "eu soneto". Mesmo antes de sonetar, eu não confundiria
substantivo com verbo. Não sou burro, como os dictadores gostariam que
todos fossemos.

Agora que cheguei a mais de cinco mil sonetos, estou mais que
credenciado a decidir em termos de orthographia. Um dos livros que estão
na minha gaveta, intitulado CRYSTALLINO CRYPTOGRAMMA, collecciona
justamente os sonetos que commentam esta opção pela escripta classica.
Eis aqui os primeiros sonetos desse cyclo. Até o proximo topico!

SONETO PARA O PARADIGMA RESGATADO [3073]

"Philosophicamente", como "appello",
graphava-se, na velha orthographia,
em texto que se lê e que se confia
que está correcto e é facil entendel-o.

O "phi" nos vem do grego, cujo sello
tem cunho scientifico hoje em dia.
Dois eles e dois pes geminam via
latim, e preserval-o exige zelo.

Assim, "ophidio" e "officio" se differem
na escripta, como "ephemero" de "effeito",
e pau nos que da origem não souberem!

Na nova orthographia, não ha jeito
que faça com que os jovens recuperem
raizes, e por isso eu não a acceito.

SONETO PARA A PARADA A PASSO DE CAVALLO [3074]

Durante o Estado Novo se decide
que "appello" vire "apêlo" e que se leia
"filosòficamente"! Na cadeia
trancado é quem da nova lei se olvide!

De novo, nos septenta, quem aggride
a lingua é um militar: manda que eu creia
que "apelo" perde accento! Esta, graphei-a
"filosoficamente", sem revide...

Revido, então, agora, quando grapho
na forma etymologica: um alarde
de como auctoritario é um "novo" bafo.

Podemos restaural-a! Nunca é tarde!
Si dessa dictadura hoje me safo,
a lucta encararei: não sou covarde!

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