Antes de abbordar outros themas deste mez, approveito para advisar aos
leitores que, em logar do systema mixto que venho utilizando neste blog,
passo a escrever com maior rigor etymologico, para exemplificar como
ficaria um texto submettido a normas mais inflexiveis, como as que vão
expostas nas notas 10 e 13.9 do meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO. Sei que
isso aggradará a internautas como o Evandro de Albuquerque Queiroz e o
Pedro da Sylva Coelho, mas resalvo que tal criterio foi menos usual
entre os seculos XIX e XX, practicado por abbalizados especialistas como
Ramiz Galvão mas desconsiderado por outros, como Julio Nogueira.
Ora, accontesce que sahiu na revista litteraria PESSOA uma curiosa
materia de Raphael Monte sobre a prequarentista obra humoristica NOVA
MANEYRA DE FALLAR, assignada pelo Barão d'Ascurra, que satyrizava o
accordo orthographico de 1931 entre a Academia Brazileira de Lettras e a
Academia das Sciencias de Lysboa. Aqui não vem ao caso a identidade do
pseudonymo, que se suppõe ser do philologo Saul Borges Carneiro, com um
dedinho do impagavel Barão de Itararé e de outros escriptores. Tambem é
irrelevante emphatizar que o livrinho foi vazado numa escripta mais
quinhentista que novecentista, na qual palavras como "rey" ou "maneyra"
ainda guardavam resquicios medievaes. Quem quizer conferir a materia
pode accessal-a pelo link:
http://www.revistapessoa.com/2014/08/nova-maneyra-de-fallar/
O que nos importa resaltar é que aquelle opusculo retracta com circenses
tinctas a confusão que os lusophonos attravessavam na primeira metade do
seculo passado, até que a dictadura getulista impuzesse deste lado do
Atlantico aquella malfadada reforma phonetica de 1943. Na verdade, o tal
"accordo" de 1931 não foi o unico que fracassou. Varias tentativas
vinham sendo commettidas para "simplificar" a orthographia, todas
condemnadas ao insuccesso, a menos que tyrannicamente officializadas,
como occorreu na decada de 1940.
Ja expuz, à nausea, os argumentos scientificos que desrecommendam a
phonetização da escripta portugueza, como da franceza ou da ingleza, a
despeito dos casos hespanhol e italiano, que teem fundamentação
historica e não politica. Ou, como dizia Fernando Pessoa (elle tambem
adepto da etymologia), orthographia é questão de espirito, não de
estado. Mas o livro do Barão d'Ascurra traz à baila outro angulo do
argumento, que tambem ja utilizei, mas que vale reproduzir nas palavras
do proprio auctor, a quem não aggradava uma orthographia por decreto:
"Exceptuados os amanuenses e typographos, encarregados de copiar e
imprimir os actos officiaes, a quem mais obrigaria uma lei federal que
instituisse normas orthographicas? Aos estudantes e professores dos
cursos superiores e secundarios? E si os professores desses cursos,
considerando na questão orthographica o lado scientifico, enxergassem na
lei um attemptado à liberdade de pensamento?"
Em summa, cabe a nós, etymologistas, um verdadeiro activismo de
resistencia ao auctoritarismo da ABL e dos governos de plantão que
delegam a um punhado de academicos envaidescidos e gananciosos uma
tarefa para a qual ninguem os elegeu, bem como aos parlamentares que se
arvoram como fiscaes do pensamento na sua forma mais intocavel, que é a
escripta. Luctemos, pois, contra essa panellinha dentro da egrejinha!
Abbaixo a dictadura!
A questão formulada por Raony Gonçalves vem a proposito de certas
concessões a formas simplificadas, ainda que o criterio geral seja
etymologico: "Glauco, ja que AJEITAR e ADJECTIVAR são graphemas
parallelos e você admitte que podem ser uniformizados si escrevermos
ADJEITAR, por que não fazermos o mesmo com ENSINAR e ASSIGNAR?"
Caro Raony, é só uma questão de coherencia. Si acceitarmos o systema
mixto que predominou na phase prequarentista, acceitaremos algumas
simplificações, não porque capitulemos aos phoneticistas e reformadores,
mas porque a tradição do idioma ja as crystallizou, como SINA em vez de
SIGNA, TRUNFO em vez de TRUMPHO ou FEIJÃO em vez de PHEIJÃO. Mas si
uniformizarmos aquelles verbos como AFFAMAR e AFFORTUNAR, ABBREVIAR e
ABBRAZILEIRAR, APPROVAR e APPROVEITAR, o mais logico seria seguirmos o
mesmo criterio para ASSIGNAR e ENSIGNAR. Apenas em certos casos seria
recommendavel uma digraphia para effeitos semanticos, como entre os
verbos CATAR e CAPTAR, APPRENDER e APPREHENDER. Assim reduziriamos as
inevitaveis excepções e extenderiamos o padrão etymologico a um maior
universo lexico. Vale a pena insistir, sim, Raony!
Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.
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