Antes de entrar no thema deste mez, quero registrar o commentario do
leitor que se assigna Jack Pino: "Meu Deus... Este blog é maravilhoso...
Eu amo a velha orthographia! Doravante tentarei dominal-a e
apprendel-a!" Só posso estimular o Jack a entrar de sola nesse terreno,
que é vasto mas fascinante. Suggiro a leitura da parte theorica do
diccionario disponivel no link que vae no final desta postagem.
Outro attento leitor deste bloguinho de notas questiona-me accerca do
diphthongo "AE". Elle quer entender por que era com "E" na orthographia
tradicional e por que ficou com "I" na actual graphia, como nos pluraes
de singulares terminados em "AL" ou em flexões verbaes typo GRAPHAE,
FALLAE, CAE e SAE.
Então vamos la. Primeiro transcrevo o que diz Julio Nogueira, em seu
MANUAL ORTHOGRAPHICO BRAZILEIRO, sobre as trez formas de representar o
diphthongo ("AE", "AI" e "AY"), depois commento.
{Na segunda pessoa do plural do imperativo dos verbos da primeira
conjugação latina, cahindo o "T", formou-se normalmente o diphthongo
"AE", que persistiu: AMATE - AMAE, LAUDATE - LOUVAE. Nas formas dos
verbos CAHIR, SAHIR, ATTRAHIR, CONTRAHIR escreve-se o diphthongo final
"AE": CAE, SAE, ATTRAE, em opposição a outras em que o diphthongo não é
final: CAIAM, SAIA, ATTRAIAS, CONTRAIAM. Tenha-se como preceito de cunho
practico que se escreve "AE" no plural das palavras que no singular
terminam em "AL": SAES, REAES, ANIMAES, LARANJAES, TAES, LEGAES,
NATURAES, etc. Escreve-se ainda esse diphthongo nas palavras PAE e CAES
(substantivos). [...] Na segunda pessoa do plural do presente do
indicativo dos verbos da primeira conjugação muitos escrevem "AI", como
nas formas: AMAIS, CANTAIS, LOUVAIS. Essa graphia tem a virtude de
evitar certas homographias: LEAIS (verbo) [sic]; LEAES (plural de LEAL),
ANIMAIS (verbo); ANIMAES (plural de ANIMAL). Ha, porem, indecisão,
preferindo alguns escrever AMAES, LOUVAES, VAES. O fundamento que
appresentam para isso é que estas formas em "AES" não proveem
directamente das formas latinas em "ATIS", sinão das do portuguez
anteclassico em "ADES": AMADES, LOUVADES, nas quaes a queda do "D"
determinou o encontro "AE" e não "AI". Esse respeito à graphia classica
não se explica, uma vez que as demais alterações operadas pela
disciplina grammatical, são geralmente acceitas. Cahindo o "D" de
AMADES, VEJADES, etc. o "E" podia egualmente ser transformado em "I" na
graphia, como o foi na pronuncia. Os que preferem AMAES devem escrever
tambem SOES (SODES) e não SOIS. As formas anteclassicas passaram por
alterações mais profundas que a simples graphia. Vemos o "I" intervir
para evitar o hiato: SABEDE - SABEE - SABEI. Como recusar que elle
reapparesça, não tanto por amor da etymologia, que pouco importa [sic],
mas como uma generalização de todo poncto razoavel? A verdade, porem, é
que uma grande corrente prefere o diphthongo "AE". Na segunda pessoa do
plural do presente do subjunctivo dos verbos da segunda, terceira e
quarta conjugação latina da queda do "T" resultou egualmente o
diphthongo "AI": DEBEATIS - DEVAIS, LEGATIS - LEAIS [sic], VESTIATIS -
VISTAIS. Da queda do "D" intervocalico resultou ainda o diphthongo "AI"
em VAIS, VAI, (VADIS, VADIT) e da do "G" em MAIS (MAGIS). Em casos de
attracção do "I" forma-se naturalmente o diphthongo: RABIA - RAIVA,
RADIU - RAIO, APIU - AIPO, FACIA - FAIXA. O diphthongo "AI" resulta
ainda do allongamento compensatorio do "A": CAIXA, de CAPSA, onde a
queda do "P" que com o "S" transcrevia a duplice grega PSI determinou o
phenomeno de diphthongação. Escreve-se "AI" em palavras provenientes da
lingua indigena: AIPIM, CAIPORA, CAITETU. "AI" é a escripta normal de
formas verbaes, quando o diphthongo não é final. Assim: SAIAM, CAHIAS
etc. Tenha-se como orientação de cunho practico que no inicio ou syllaba
media da palavra se escreve "AI" e não "AE": ALFAIATE, AIA, AIROSO,
FAIA, BAILE, etc. [...] O desuso em que vae cahindo o "Y" como
subjunctiva tende a transformar a representação "AY" em "AI", ainda
quando o "Y" seja etymologico: BAIONETA (de BAYONNE). Ja o francez
representa o duplo "I" desta palavra por um "I": BAIONNETTE. O "Y"
subsiste como final do triphthongo "UAY" em palavras americanas: GUAYACA
(do quichua), PARAGUAY, URUGUAY, URUGUAYANA, JACEGUAY.}
Do meu poncto de vista a questão é elementar: si a finalidade da
orthographia não é (nem deve ser) macaquear a pronuncia, e si o proprio
Nogueira reconhesce que a subjunctiva em "E" vem da matriz latina na
maioria dos casos, não ha por que admittir excepções quando a desinencia
verbal venha de "ATIS" quando não de "ATE", até por causa da desinencia
anteclassica "ADES". Um dos exemplos dados por elle nem se justifica,
pois do verbo LER vem LEIAES e não LEAES, que só vale como plural de
LEAL. Addemais, a homographia não é algo tão determinante que exija
qualquer "virtude" para ser evitada. Mais importante é evitar a confusão
graphica que se estabelesceria caso mixturassemos as vogaes subjunctivas
"E", "I" e "Y", inclusive porque não faria sentido escrever AYPIM ou
CAYPORA com "I" ao lado de GUAYCURU ou JACEGUAY com "Y". Tudo se resume
neste poncto: si acceitassemos que uma "tendencia" a substituir o "E"
pelo "I" influisse na escripta, estariamos abrindo mão da forma
tradicional em favor da reformada pelos phoneticistas, o que não
admitto. Si admittisse, por coherencia eu teria que começar a escrever
BURRACHA, BUCETA, BUTÃO, CULHÃO, FUDIDO, FUGÃO, TUMATE, BIXIGA, DILICIA,
PINICO, PIRIQUITO, PIRU, VIADO, formas colloquiaes só acceitaveis quando
figurassem num texto imitativo da falla popular, e mesmo assim entre
nordestinos e cariocas, por exemplo, mas não entre paulistas e gauchos.
Orthographia existe para padronizar a escripta do idioma e para
preservar-lhe a integridade ao longo da historia, não para tentar
accommodar a escripta aos regionalismos dialectaes, variaveis no espaço
e no tempo. Emfim, o "amor à etymologia" não importa tão pouco quanto
allegou Nogueira, elle proprio defensor da tradição mas hesitante quando
fazia concessões a alguma "tendencia" simplificadora.
Desconsideremos, pois, os ponctos vacillantes da explanação de Nogueira
e fiquemos com o grammatico Eduardo Carlos Pereira, que só admittia, nos
finaes de palavras, a subjunctiva com "I" em rarissimas excepções, como
a interjeição AI! e os extrangeirismos SINAI, SHANGHAI ou HAIKAI.
Sejamos, em summa, minimamente rigorosos.
Aos interessados deixo o link para um menu na nuvem donde podem baixar
os archivos do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO e de outras obras pertinentes.
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0
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