sábado, 25 de março de 2017

MARÇO/2017: QUANDO "CORRECTOR" É CORRIGIDO PARA "CORRETOR"



Ultimamente tenho recebido poucas mensagens de consulentes, mas copio
abbaixo algumas interessantes às quaes respondi pelo email que utilizo:
mattosog@gmail.com


Alexandre Pires observou que meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO não
assignalava a differença entre CORRECTOR (aquelle ou aquillo que
corrige) e CORRETOR (que faz corretagem), ja que CORRIGIR e CORRETAR
teem etymos distinctos.


Bem observado, Alexandre. Lembro-me de ter attentado para a questão na
epocha em que elaborava este blog, CORRECTOR ORTHOGRAPHICO, mas faltou a
resalva no diccionario, que estou providenciando. O curioso era que
alguns orthographos admittiam só a graphia CORRECTOR, como si a
intermediação commercial presuppuzesse um accerto ou negocio
justo/correcto, desconsiderando que a CORRETAGEM vem de CORRER (como em
"moeda corrente") e não de CORRIGIR. Eu mesmo posso ter escripto errado
em algum momento, ainda que a accepção CORRETOR seja de uso mais
restricto a uma profissão.


Kayky Macedo estava em duvida sobre a origem e a graphia de seu prenome.


Caro Kayky, seu prenome pode ser escripto de qualquer maneira, como você
mesmo demonstra, ja que não tem origem formal no portuguez ou em
qualquer idioma amerindio. Na verdade, tracta-se de uma confusão que
tambem occorre com diversos outros hypocoristicos transformados em
prenomes, taes como Cadu (de Carlos Eduardo), Cabé (de Carlos Alberto),
Joca (de João Carlos) ou Zeca (de José Carlos): como não são formas
officiaes, accabam surgindo graphias typo KADU, KABÉ, JOCA ou ZEKA,
quando alguem resolve baptizar "creativamente" um filho. No seu caso,
seria a forma abbreviada de Carlos Henrique, appellido que virou moda em
algum momento (talvez por causa duma telenovella) e, com o tempo, passou
a ser graphado como identicos modismos "indigenas" typo Kauê ou Kauan.
Nada pessoal contra, meu caro, mas nos States seu nome teria pronuncia
totalmente diversa e, mesmo aqui, sempre suscitaria divergencias. O
importante é estarmos satisfeitos com nossos nomes, não é?


Vera Guimarães perguntou duas coisas: o motivo de escrevermos APPETITE
com "P" duplo e APERITIVO com "P" simples, bem como o motivo de
escrevermos AIPO com "I" e AYPIM com "Y".


Simples, Vera. APPETITE vem do latim APPETITUS, mas aquillo que abre o
appetite é APERITIVO porque "abrir" vem do latim APERIRE. Ja AIPO vem do
latim APIUM, emquanto AYPIM vem do tupy. Não são, portanto, cognatos,
como pode parescer.


Wilson Borges, a proposito das tornozelleiras electronicas tão em voga,
perguntou por que a maioria dos orthographos escreve TORNOZELLO com um
só "L" e COTOVELLO com dois. Elle tambem quiz saber por que escrevo
ESCANTHEIO quando me refiro à cobrança dum "corner" no futebol.


Wilson, transcrevo a resposta que ja dei neste blog. Todos os
diccionarios registravam COTOVELLO com "L" duplo mas simplificavam o "L"
de TORNOZELO, talvez devido ao latinismo da primeira
(CUBITUS/CUBITELLUS) e ao hellenismo da segunda (TORNOS+OZOS),
theoricamente insufficiente para explicar a desinencia latina "ELLO".
Por analogia, poderiamos admittir o graphema "ELLO" para ambas, sem
grande violencia contra a tradição vernacula, como no caso de CABELLO e
PELLO (respectivamente, CAPILLUS e PILUS, mas tambem PILLUS); acho,
porem, que a materia deve ficar a criterio de cada escriptor. Quanto ao
termo ESCANTHEIO, tracta-se de simples derivação. Ha differença entre
CANTO (no sentido musical, do latim CANTUS) e CANTHO (no sentido
espacial, do latim CANTHUS), donde o tiro de cantho ter de ser escripto
com "TH", dahi ESCANTHEIO. O mesmo vale para CANTHONEIRA, ACCANTHONAR e
outros derivados.


Lucas Barbosa indagou si não seria preferivel escrever EFFECTO e DOCTOR,
a exemplo do inglez, ja que seriam formas mais proximas da matriz
etymologica que EFFEITO e DOUTOR.


Não, Lucas, tem de ser DOUTOR mesmo e não DOCTOR. Guarde estas duas
dicas basicas e você vae evitar divagações linguisticas:


Primeira: a orthographia etymologica não mexe em consoantes que viraram
vogaes, como em DOUTOR e OUTUBRO ao lado de OITAVO e NOITE, nem em
vogaes que se transformam, como em OURO e AUREO, BOCCA e BUCCAL. Ella só
corrige a escripta em caso de consoantes mudas (AUCTOR, ELECTRICO),
duplicadas (COMMERCIO, LITTERATURA) ou digrammaticas (PHILOSOPHIA,
CHYMICA, MATHEMATICA), ou seja, deixa à phonetica o que é pronunciado e
exige da tradição o que é escripto, embora nem sempre coincida a
pronuncia com a escripta, como em EGUAL/EGUAES, CREANÇA, LOGAR ou
MOLEQUE.


Segunda: o inglez não serve como regra, só como parametro consonantal,
como em COMMERCIO, SCIENCIA, PHYSIOLOGIA ou PSYCHOLOGIA. Mas, seja em
caso de consoantes ou vogaes, é preciso cuidado com outros idiomas, como
em AUCTOR, LITTERATURA, PHANTASIA, PAROLYMPICO ou OCTOGONO, que elles
escrevem errado: AUTHOR, LITERATURE, FANTASY, PARALYMPIC, OCTAGON.

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Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT

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