sábado, 25 de março de 2017

MARÇO/2017: FALSOS AMIGOS HESPANHOES E ITALIANOS


Para aquelles que acham o hespanhol muito apparentado ao portuguez, ou
que recorrem ao "portunhol" como si fosse sufficiente para um reciproco
entendimento, suggiro a traducção do seguinte paragrapho.


Allá viene un tarado pelado con su saco en las manos corriendo atrás de la
buseta. La perdió y quedó dando puñetazos al aire.


O sentido correcto nada tem de chulo nem obsceno, ao contrario do que
pode parescer:


Lá vem um doido careca com seu paletó nas mãos correndo attraz do
microomnibus. Perdeu-o e ficou dando socos ao ar.


Essa pegadinha de estudantes pode illustrar algo mais que uma armadilha
idiomatica. Tambem nas questões orthographicas é preciso tomar cuidado
com as analogias. Não é porque "nuestros hermanos" usam um "H" que
podemos ir graphando IRMÃO com essa inicial, nem porque escrevem
"español" que vamos tirar o "H" de HESPANHOL. Vale sempre conferir a
matriz latina, levando-se em compta a propria tradição lusophona.


Um problema que passa despercebido à maioria dos orthographos é que os
auctores de diccionarios são tendenciosos e capciosos quando
compromettidos com o phoneticismo. No intuito de "empurrar" a
simplificação reformista, escamoteiam matrizes etymologicas e dão
hespanholismos ou italianismos como "origem", a fim de desviar a
attenção do consulente. Cito os casos de AFFICCIONADO, TERTULLIA,
HARPEJO e EXTORNO.


AFFICCIONADO, segundo os lexicographos, vem do hespanhol AFICIONADO,
como si isso bastasse para nos obrigar a fazer de compta que não
preexistem o prefixo latino "AD" e o substantivo FEIÇÃO, alem de formas
correlatas como AFFECTO e AFFECÇÃO, ao lado de AFFEIÇÃO. Por mais que a
especificidade do significado seja hispanica, orthographicamente o que
deve valer é a morphologia tradicional na hora de apportuguezarmos o
vocabulo, evidentemente. O mais vernaculo seria AFFECCIONADO, mas
admitte-se o "I" pelo "E" para characterizar uma accepção menos
physiologica que psychologica. A proposito, a palavra PSYCHOLOGIA é
exemplo gritante de como o phoneticismo não pode servir de parametro
para qualquer reforma, pois em hespanhol virou SICOLOGÍA, forma que,
alem de absurda, induz à confusão com SYCOLOGIA, que em portuguez
significa o estudo dos figos, devido ao etymo grego SYCO.


TERTULLIA apparesce nos diccionarios como sendo de origem castelhana,
dahi levar um só "L". Mentira. O significado da palavra pode ter sido
concebido naquelle idioma, mas a palavra em si tem obvia origem no nome
do ecclesiastico catholico Tertulliano, donde o termo TERTULLIANISMO.
Ora, fica claro que, num portuguez que se queira etymologico, TERTULLIA
tem de levar "L" duplo, e fim de pappo.


HARPEJO, obvia derivação de HARPA, apparesce em varios diccionarios como
ARPEJO, só porque existe ARPEGGIO no italiano. Ora, é claro que, no
sentido technicamente musical, a origem immediata é italiana, mas a
origem remota é que deve prevalescer neste caso.


EXTORNO, por sua vez, vem allegadamente do italiano STORNO, pretexto
para que alguns lexicographos desrecommendem o "X". Outro caso em que,
si a accepção especificamente financeira pode ser a italiana, a
morphologia e a semantica exigem o prefixo "EX" latino, ao contrario do
café ESPRESSO, onde o "S" é necessario para differenciar de EXPRESSO, ja
que o sentido não é o dum preparo rapido e sim dum resultado obtido sob
pressão.


Ainda no terreno das distincções necessarias, approveito para lembrar
que GRAFFITE não é o mesmo que GRAPHITE, dahi a acceitação do
italianismo GRAFFITTI, para differenciar, no minimo, um lapis dum
spray...


Isto dicto, vou parando por aqui e volto em breve. Até!


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Para baixar e abrir o diccionario orthographico do auctor, accessem:
https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0&preview=DICCIONARIO+ORTHOGRAPHICO.TXT

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